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Juncker sobre o Brexit: “Eles têm de pagar” mas não de uma “forma impossível”
Jean-Claude Juncker diz que “os britânicos estão a descobrir, tal como nós, dia após dia novos problemas”, sendo por isso que o Brexit vai “demorar mais tempo”. O presidente da Comissão Europeia assinalou que sem um acordo quanto à “factura” do Brexit, não é possível que as negociações avancem para uma segunda fase.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, utilizou um discurso perante uma plateia de estudantes no Luxemburgo para manifestar, sem qualquer dúvida, a sua posição em relação à saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Juncker não tem dúvidas que Londres tem de pagar uma factura relativa ao Brexit. E tal como já tinha sido avançado várias vezes, enquanto esse tema não estiver tratado, as negociações não avançam para uma segunda fase.
"Os britânicos estão a descobrir, tal como nós, problemas dia após dia. É esse o motivo pelo que este processo vai demorar mais tempo do que o inicialmente pensado", adiantou, citado pela Reuters. "Não podemos encontrar, por enquanto, um compromisso verdadeiro no que diz respeitos aos restantes compromissos financeiros do Reino Unido. Como não somos capazes disso, não vamos poder dizer ao Conselho Europeu, em Outubro, que podemos avançar para a segunda fase de negociações", acrescentou.
Juncker reiterou, citado pela agência de informação, ainda: "Eles [britânicos] têm de pagar, eles têm de pagar, não de uma forma impossível. Não estou num modo de vingança. Não odeio os britânicos". Publicamente, a União Europeia nunca afirmou qual o valor da factura que os britânicos tinham de pagar pelo Brexit. Mas em Maio surgiram notícias que indicavam que a Alemanha e a França antecipavam que o valor do cheque ascendia a 100 mil milhões de euros, uma posição reiterada pouco depois por Paris. Ora, este valor é muito abaixo do que aquele com que Londres está a contar: os britânicos terão preparado um cheque de 20 mil milhões de euros.
Na próxima semana, a 19 e a 20 de Outubro, realiza-se a Cimeira Europeia e desse encontro deve sair a conclusão que os progressos alcançados até aqui nas negociações não foram suficientes para que as conversações evoluam para uma outra fase: a futura relação comercial entre Londres e os restantes membros da União Europeia.
Este tema é bastante importante para o Reino Unido e Londres gostaria que, neste encontro da próxima semana, houvesse margem para que os líderes europeus pudessem dar luz verde a esse tema. Para já, os líderes não querem avançar nessa direcção, mas até ao fim do ano essa posição pode mudar. De acordo com a Bloomberg, há Estados-membros que querem começar as negociações sobre a relação comercial o quanto antes e se este tema for adiado para além de Dezembro deste ano, poderão começar a surgir alguns desentendimentos na posição do bloco europeu.
May e os problemas internos
Os últimos dias não têm sido fáceis para a primeira-ministra britânica. Depois de no último fim-de-semana ter conseguido colocar alguma água na fervura, travando os conservadores que queriam que May abandonasse tanto a liderança do partido como do governo, por esta altura, a chefe de governo está a braços com novas dificuldades em relação à lei do Brexit.
De acordo com o Financial Times, a primeira-ministra foi obrigada a atrasar a introdução da lei, que prevê a saída do Reino Unido do bloco económico, na Câmara dos Comuns devido a "rebelião de membros do parlamento [do partido] Conservador pró-europeus, que estão a trabalhar intensamente pelas linhas do partido para reescrever a legislação".
A lei em questão devia voltar à Câmara dos Comuns durante a próxima semana para ser alvo de escrutínio, mas essa data teve de ser adiada para que a equipa da primeira-ministra possa resolver a "rebelião", segundo a mesma fonte. Ontem, Andrea Leadsom, líder da Câmara dos Comuns, citada pelo FT, avançou que "foram propostas 300 alterações e 54 cláusulas novas".
Mas este pode não ser o único problema com que Theresa May vai ter de lidar. O Good Law Project, gerido por um advogado da área fiscal, Jolyon Maugham, e Molly Scott Cato, membro do parlamento europeu, estão disponíveis para levar o governo britânico a tribunal se, nos próximos 14 dias, as autoridades não divulgarem os relatórios internos em que consta o impacto que o Brexit vai ter para as diferentes partes da economia.
"Não é correctos que eles os escondam do público", disse à Bloomberg Maugham. "Temos de ser capazes de ver o que é que significa o Brexit", acrescentou.
O Reino Unido deverá deixar a União Europeia no final de Março de 2019.