Notícia
A semana do Brexit ao minuto
O Reino Unido vai sair da União Europeia. Ninguém ficou indiferente à decisão tomada em referendo. E os efeitos sentiram-se de imediato. O Negócios acompanhou ao minuto todos os acontecimentos. Aqui fica a compilação dos mais importantes.
Chega finalmente o dia das decisões. 23 de Junho, uma quinta-feira. Foi a data escolhida por David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, para a realização do referendo sobre a permanência britânica na União Europeia (UE). Foi também um longo dia, com votações até às 22:00 de Londres (mesma hora em Lisboa).
Era um dia importante. Bruxelas, mercados e pessoas por todo o mundo atentos aos desenvolvimentos de uma data que poderia ditar o afastamento da ilha face ao continente. Boris Johnson, conservador e um dos rostos da campanha pelo "leave", admitia que o referendo é mais importante do que o seu próprio futuro político. Bolsa e libra britânica estavam em forte alta perante a recuperação evidenciada pelo "remain" nas intenções de voto.
Até às 12:00 saíram duas sondagens que coincidiam ao atribuir a vitória ao Bremain no referendo. Nigel Farage, líder do UKIP e figura dos apoiantes do Brexit, garante que a possibilidade de vitória do "leave" é "muito sólida". A chanceler alemã, Angela Merkel, vai avisando que em caso de Brexit é fundamental que a UE assegure uma resposta una, a 27.
Às 22:00 fecham as urnas e é divulgada a primeira sondagem após o fecho das urnas que atribui a vitória ao "remain" com 52% contra 48% do "leave". Farage reage numa declaração que se assemelha a um assumir de derrota. A libra dispara.
Madrugada fora Reino Unido e Londres não dormem. Contam-se os votos. Às 02:00 da madrugada de sexta-feira o "in" continua à frente do "out", dando razão às sondagens. Em Sheffield vence o "leave" e dá-se a reviravolta. O Brexit já lidera. A libra afunda 8%.
Às 04:00 é conhecida uma nova sondagem da Sky News, que aponta para a vitória do Brexit. Farage assume no Twitter que já sonha com a vitória. Antes das 04:30 Farage surge perante as câmaras radiante e faz discurso de vitória. Poucos minutos depois das 06:00 é oficial: Brexit vence e UE confronta-se com a saída da sua segunda maior economia.
Multiplicam-se as reacções, com pedidos de referendo em França, Itália, Holanda, Suécia e Finlândia. A UE reage a várias vozes e nem sempre de forma consentânea. David Cameron assume derrota e anuncia a demissão da chefia do Governo para Outubro. Jeremy Corbyn, líder trabalhista, garante que não se demite.
O BCE dá garantias de liquidez para enfrentar situações de emergência. Fed e Banco de Inglaterra fazem o mesmo. Nos mercados as tendências são duas: Bolsas em forte queda e juros da dívida dos países periféricos em alta. A Escócia pede segundo referendo sobre a independência do país em relação ao Reino Unido. Edimburgo quer continuar na UE.
Fim-de-semana (25 e 26 de Junho)
Chega ao fim-de-semana mas nem por isso as réplicas do terramoto Brexit deixam de se fazer sentir. Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos seis fundadores da UE (Alemanha, França, Itália e Benelux) reúnem-se de emergência. Paris e Berlim pedem saída rápida do Reino Unido para diminuir a incerteza decorrente do Brexit.
Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, garante que o Brexit "não é um divórcio amigável". Bruxelas continua a responder a várias vozes e em tons dissonantes. Director de campanha do "leave" pede calma no processo de saída do Reino Unido da UE. Angela Merkel tenta moderar opiniões e defende que o Brexit não pode concretizar-se nem num curto período de tempo, nem num prazo demasiado alargado.
Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, culpa as lideranças europeias pelo resultado no referendo britânico. Depois de conversarem ao telefone, Merkel e François Hollande, acordam sobre a "necessidade de iniciativas a favor da Europa e de agir rapidamente em relação a prioridades concretas". O Papa Francisco mostra-se preocupado e alerta para risco de balcanização europeia. Conservadores liderados por Mariano Rajoy vencem eleições espanholas, com os analistas a considerarem que o Brexit beneficiou o ainda primeiro-ministro espanhol.
Partido Trabalhista permanece em ebulição, com vários membros a apresentarem a demissão para forçar Jeremy Corbyn, líder do partido, a fazer o mesmo. Mantém-se uma grande turbulência nos mercados. O sector financeiro europeu recua para mínimos de quatro anos. Libra cai para mínimo de 31 anos. Comissão Europeia pede a Londres para invocar "o mais rápido possível" o artigo 50 do tratado de Lisboa.
Contracorrente, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, diz que o Brexit é uma "grande oportunidade" para a Europa mudar de rumo. Merkel quer aposta na segurança e emprego. Afinal Cameron abandona o Governo e a liderança dos "tories" em Setembro, e avisa que não será ele a invocar o artigo 50. Hollande responde e pede divórcio rápido. Agência de rating S&P retira nível máximo ao Reino Unido. Depois de se reunirem, Roma, Paris e Berlim anunciam um "novo impulso" para a UE.
Juncker aceita mal o resultado do referendo e, no Parlamento Europeu, pergunta a Farage o que está ali a fazer. George Osborne, ministro britânico das Finanças, antecipa aumento de imposto e corte na despesa pública já em 2016. Antecipando instabilidade, Mark Carney, governador do Banco de Inglaterra, confirma que a autoridade monetária injectou 3,1 mil milhões de libras (3,7 mil milhões de euros) no sistema bancário numa operação extraordinária de financiamento. Bolsas, libra e também o petróleo iniciam recuperação após dois dias de fortes quedas.
O presidente norte-americano, Barack Obama, pede calma e avisa para consequências perniciosas da histeria em torno do Brexit. Já o primeiro-ministro português, António Costa, quer que a Europa trate das causas que levaram a este resultado no referendo britânico. Renzi e Merkel coincidem: Londres não pode apenas ficar com as "coisas boas" do mercado único, tem de aceitar também a liberdade de circulação de pessoas.
Sucedem-se os candidatos à sucessão de Cameron na liderança dos conservadores. Paralelamente cresce a contestação a Jeremy Corbyn no seio dos trabalhistas, com o líder do Labour a perder por larga margem a moção de desconfiança apresentada pelo grupo parlamentar do partido. Mesmo assim, Corbyn afiança que não se demite.
No seu último Conselho Europeu, Cameron defende que "temos de demorar algum tempo" para assegurar que o Brexit acontece sem sobressaltos. Juncker insiste na ideia contrária, o Reino Unido deve sair rapidamente da União. E Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, pede que Londres diga com clareza o passo que pretende dar a seguir.
Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, salienta a determinação escocesa em permanecer como país-membro do bloco europeu. Juncker defende que a Escócia ganhou o direito a ser ouvida em Bruxelas. No final do segundo dia do Conselho Europeu, pela primeira vez a 27, já sem Cameron, Angela Merkel anuncia que os Estados-membros decidiram não avançar com alterações aos tratados.
E Donald Tusk regressa ao aviso de que o Reino Unido não pode esperar poder beneficiar de um mercado único "à la carte". Em Londres, Cameron defende relação próxima com Bruxelas e admite que a imigração continuará a ser uma questão complexa. Temendo o reforço do independentismo em Espanha, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, avisa "se o Reino Unido sai, a Escócia sai também". Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças, mostra receio em relação a eventual efeito dominó na UE provocado pelo Brexit.
O FMI alerta para impacto do Brexit na economia alemã e Obama diz que esse evento "vai congelar as possibilidades de investimento na Europa". Theresa May, candidata à liderança dos conservadores, diz-se a melhor pessoa para assumir nesta altura a chefia do Governo britânico.
Apesar da recuperação verificada nos mercados a partir de terça-feira, o investidor norte-americano George Soros considera que o Brexit "desencadeou" uma crise nos mercados idêntica àquela que se seguiu à crise financeira em 2007 e 2008. O Fundo Monetário Internacional (FMI) nota que a incerteza provocada pelo Brexit prejudica o crescimento económico da Europa. S&P corta o rating da União Europeia.
Boris Johnson, ex-mayor londrino, anuncia que afinal não é candidato à sucessão de Cameron. São cinco os candidatos confirmados à sucessão: Theresa May, Stephen Crabb, Liam Fox, Michael Gove e Andrea Leadsom. Já nos trabalhistas, Angela Eagle, apontada como provável candidata contra Corbyn pela liderança trabalhista, adia a decisão.
O ex-primeiro-ministro Tony Blair, segundo refere o Telegraph, oferece-se para mediar processo negocial da saída do Reino Unido. Os trabalhistas avisam que vão defender junto de Bruxelas a permanência no mercado livre. Contudo, John McDonnell assegura "o livre movimento de trabalhadores e pessoas vai chegar ao fim".
Afinal o Reino Unido não deverá conseguir deixar de ter défice orçamental antes de 2020, avisa o ministro George Osborne. A easyJet pede licença noutro país para continuar a operar na Europa. Presidente do Bundesbank volta a opor-se às políticas de expansão monetária do BCE e mostra-se contra novas medidas de estímulo à Zona Euro. As bolsas europeias fecham a semana em terreno positivo e com ganhos acumulados nas últimas quatro sessões. O índice de referência britânico (Footsie) valorizou mais de 1% para máximos de 14 de Agosto do ano passado.