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À quarta foi de vez, Rajoy eleito presidente do governo de Espanha

Depois de mais de dez meses de liderança provisória, Mariano Rajoy foi este sábado investido presidente do governo espanhol, na quarta tentativa desde as eleições gerais de 26 de Junho. Com socialistas divididos, Pedro Sánchez deixa no ar hipótese de recandidatura à liderança do PSOE.

Reuters
29 de Outubro de 2016 às 20:14
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Espanha está em vias de ter um novo governo após mais de dez meses de bloqueio institucional. Mariano Rajoy foi este sábado, 29 de Outubro, eleito presidente do governo espanhol, com o presidente do PP a receber 170 votos favoráveis, 111 contra e 68 abstenções.

Depois de ter falhado a primeira tentativa na quinta-feira – há quase dois meses havia fracassado por duas vezes a investidura, quando Pedro Sánchez ainda liderava o PSOE – este sábado bastava apenas a Rajoy conseguir mais votos a favor do que contra. Foi o que aconteceu, graças à abstenção de 68 deputados do PSOE. 

Já depois da votação, Mariano Rajoy revelou que na próxima quinta-feira anunciará a composição do futuro governo espanhol, havendo grande expectativa em torno dos nomes que serão escolhidos para o futuro elenco governativo. Até porque na base do acordo entre PP e Cidadãos está o compromisso de regeneração política, isto depois dos vários casos de corrupção que afectaram membros do PP e do próprio Executivo popular.

Foram 314 os dias de impasse político que se seguiram às eleições de 20 de Dezembro do ano passado.
Agora Mariano Rajoy irá chefiar um executivo com apoio parlamentar minoritário, o que obrigará a negociações. O líder do PP necessitará, por exemplo, do PSOE para aprovar o Orçamento para o próximo ano ou as medidas adicionais exigidas por Bruxelas por forma a retirar o país dos procedimentos por défices excessivos.

"Não peço um cheque em branco", afirmou esta sábado Rajoy que se comprometeu com o Cidadãos a implementar uma série de reformas em troca do apoio do partido liderado por Albert Rivera à sua investidura. No entanto, Rajoy foi já tratando de avisar que não irá reverter as reformas económicas prosseguidas ao longo do seu primeiro mandato (então com maioria). Avisando ainda que não aceitará ficar na mão dos socialistas porque Espanha precisa de "um governo em condições de governar. Não de ser governado, mas de governar".

PSOE dividido e Sánchez aponta à liderança

Para colocar um ponto final à instabilidade política decorrente do Congresso (equivalente ao Parlamento) mais polarizado da história democrática espanhola, Mariano Rajoy voltou a contar com o apoio de 170 deputados (137 votos do PP, 32 do Cidadãos e a deputada da Coligação Canária), beneficiando ainda da abstenção da maior parte dos deputados socialistas. A restante oposição votou contra em bloco.

Apenas 15 deputados do PSOE (Pedro Sánchez renunciou este sábado ao mandato de deputado, não participando na votação) votaram contra o presidente do PP, desrespeitando assim a decisão colegial tomada no início do mês pelo Comité Federal socialista. Entre estes parlamentares estavam os sete deputados dos socialistas da Catalunha (PSC, partido autónomo mas que integra o PSOE), e ainda políticos próximos de Sánchez ou que pertenciam à sua direcção.

O órgão máximo do PSOE entre congressos decidiu pela abstenção a Rajoy, numa segunda votação de investidura, de forma a retirar Espanha do impasse e impedir novas eleições, que seriam as terceiras no espaço de um ano. Decisão essa que levou à demissão de Sánchez, opositor à viabilização de qualquer solução governativa protagonizada por Rajoy. Ainda assim não estava em causa a eleição de Rajoy, até porque com a renúncia de Sánchez bastava apenas ao líder conservador que dez deputados (e já não os 11 das últimas votações) socialistas se abstivessem.

Além do facto de 15 deputados terem rompido a disciplina de voto inerente à decisão do Comité Federal, a carta de renúncia de Sánchez deixa antever um partido dividido. O ex-secretário-geral explicou ter decidido não escolher nenhuma das duas opções que lhe foram dadas pela actual comissão gestora do partido (em funções até à realização de primárias): abster-se ou romper a disciplina de voto. "Não irei contra o meu partido nem contra o meu compromisso eleitoral", explicou.

Pedro Sánchez acrescenta que não abandonou a política, tendo apenas optado por voltar à condição de "militante de base". E promete "percorrer todos os cantos de Espanha para ouvir os que não foram ouvidos", tendo lembrado a comissão gestora que este sábado "termina o seu mandato". Garantias que deixam no ar uma provável recandidatura à liderança do PSOE.

Por outro lado, Sánchez apelou ao líder interino, Javier Fernández, e restante comissão gestora para não iniciarem um processo de expulsão do grupo parlamentar dos deputados que não respeitaram a disciplina de voto. Pedindo ainda que o partido não rompa com o PSC.

Começa agora uma nova era política em Espanha, inédita desde a estabilização do quadro político-partidário que se seguiu à transição democrática. Se é verdade que Rajoy depende do PSOE para governar, não é menos verdade que o agora reconduzido primeiro-ministro espanhol poderá a qualquer momento, aproveitando a fragilidade interna e eleitoral (tendo em conta as sondagens) dos socialistas, provocar novas eleições.

O Podemos está à espreita e assume-se como o partido da oposição ao novo governo, a que chama de "grande coligação". Durante a votação deste sábado, em redor do Congresso cerca de seis mil pessoas manifestaram-se contra a investidura de Mariano Rajoy. Uma manifestação promovida pelo Unidos Podemos (aliança entre Podemos e os pró-comunistas da Esquerda Unida), contra o que considera representar o fim do regime bipartidário de alternância entre PP e PSOE e a institucionalização de um regime que não respeita a vontade popular.  


(Notícia actualizada às 21:00)
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