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Reino Unido pede o melhor de dois mundos

Londres pôs as cartas na mesa e jogou alto. Quer romper de vez com a UE mas negociar ao lado um “ambicioso” acordo de livre comércio e uma “parceria estratégica” como as que a União reserva para as grandes potências globais. A Europa limitou-se a elogiar-lhe a clareza.

Reuters
17 de Janeiro de 2017 às 21:16
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Seis meses depois do referendo, Londres pôs finalmente as cartas na mesa e jogou alto. Quer cortar de vez com a União Europeia (UE), incluindo com o mercado único, o que significa fazer um "hard Brexit". Ao mesmo tempo, quer negociar de raiz um novo enquadramento com os demais países da União que lhe conceda o máximo acesso possível no comércio de bens e serviços, total liberdade para negociar acordos com países terceiros, e garanta o fim da interferência de Bruxelas nas suas políticas de entrada de estrangeiros e da supramacia da jurisprudência dos tribunais europeus, bem como uma redução substancial do que hoje paga para os orçamentos comunitários. E Londres quer tudo isso embrulhado numa "parceria estratégica" como as que a UE reserva para as grandes potências globais, como os Estados Unidos.

Esta estratégia foi pela primeira vez admitida de forma clara nesta terça-feira pela primeira-ministra ,Theresa May, segundo a qual só uma saída completa do país da UE dará seguimento ao resultado do referendo e poderá ser simultaneamente compatível com a indivisibilidade das quatro liberdades de circulação (incluindo a de pessoas) com que os demais países da UE reiteraram a definição do mercado único.  "Quero ser clara: O que estou a propor não pode significar continuar a pertencer ao mercado único", disse referindo-  -se à parte da UE que, quem fez a campanha pelo "Brexit", prometera ser possível manter. Em contrapartida, acrescentou, "procuraremos obter o mais vasto acesso possível através de um novo acordo de livre comércio que seja abrangente, audaz e ambicioso. Esse acordo pode incluir elementos da actual regulamentação do mercado único nalgumas áreas".

O plano do Governo de deixar a UE é economicamente catastrófico e a Escócia deve ter a opção de votar pela independência se as suas opiniões sobre o Brexit forem rejeitadas. Nicolas Sturgeon, Primeira-ministra da Escócia

Em relação à imigração, May frisou que passará a ser o Reino Unido a controlar quem e quantos entram no seu território, mas disse também ser "prioritário" encontrar uma solução que permita "respeitar os direitos dos trabalhadores" britânicos que vivem noutros países da UE e, reciprocamente, proteger os europeus que estão neste momento no Reino Unido.
A confirmação da adopção de uma linha dura em matéria de livre circulação de trabalhadores fará com que muito dificilmente os demais países europeus aceitem preservar a "via verde" com que as entidades sediadas na City financeira londrina negoceiam em toda a UE. Sintomaticamente, as primeiras reacções dos dirigentes europeus dirigiram-se para a forma e não para a substância das declarações de May, elogiando-lhe a "clareza".

"Nós estamos a sair da UE mas não da Europa", afirmou a primeira-ministra, que disse estar também comprometida em manter uma cooperação estreita com os demais países da UE em matéria de segurança (designadamente entre os serviços de informação), mas também nos domínios da investigação e da ciência. "Queremos negociar com os nossos parceiros europeus como melhores amigos e vizinhos", prosseguiu May que entregará  no final de Março o pedido formal de divórcio que deverá estar concluído no prazo de dois anos.

Um processo triste, tempos surrealistas, mas pelo menos um anúncio mais realista sobre o Brexit. Donald Tusk, Presidente do Conselho Europeu
A saída da UE deve ser acompanhada de acordos de transição (não referiu prazos) para evitar rupturas abruptas e ser aproveitada para repensar o modelo económico do país, em particular, a sua reindustrialização, acrescentou a primeira-ministra sem precisar se tal se traduzirá pela oferta de uma baixa generalizada dos impostos pagos pelas empresas, como tem sido sugerido pelo seu ministro das Finanças.  

May revelou ainda que submeterá à votação das duas câmaras do Parlamento britânico o resultado final do acordo que vier a ser negociado com a UE, mas, em qualquer cenário, a saída está decidida.

Libra dispara após discurso de May

A libra disparou na última sessão, após a primeira-ministra britânica ter garantido que levará o acordo final para o Brexit ao Parlamento. A divisa seguia, à hora de fecho desta edição, a subir 2,86% para 1,2392 dólares, uma tendência de valorização que se seguiu ao final do discurso feito esta terça-feira, 17 de Janeiro, pela primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May. Assim que terminou a intervenção em que May anunciou que Londres vai optar por um "hard Brexit" - mas levando o acordo final à votação do parlamento - , a libra disparou, registando a maior subida intra-diária desde 14 de Julho do ano passado. "O facto de levar um acordo final do Brexit a ambas as câmaras do Parlamento é positivo para a libra esterlina. (...) O acordo terá de ser bom para que o Parlamento o aprove", disse à Bloomberg o analista Athanasios Vamvakidis, do Bank of America. DS

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