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Quando um partido pede que o adversário seja preso

Donald Trump ganhou a nomeação republicana, mas ainda não tem o partido unido. Uma das estratégias para o conseguir é organizar um ataque de peso contra a candidata democrata, Hillary Clinton.

Bloomberg
20 de Julho de 2016 às 20:56
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Ataques violentos entre candidatos presidenciais não são uma novidade, mas a campanha de Donald Trump está a elevar a retórica para outro nível. Nos primeiros dois dias da convenção republicana, a democrata Hillary Clinton foi omnipresente: gritos de "culpada!", pedidos de prisão e até acusações de ligações... ao diabo.

Numa altura em que o Partido Republicano ainda está a tentar reorganizar-se depois do furacão Trump, com inúmeras feridas abertas, o elemento unificador do partido parece ser o ódio a Clinton, incentivado pelos oradores e consumido em euforia pela audiência.

Uma das principais mensagens é que Clinton deveria ser presa. Logo no primeiro dia, depois de o público começar a gritar "prendam-na!", o orador - Tenente-general Michael Flynn - parou para concordar com o coro: "Sim, prendam-na!" Uma mulher que perdeu o filho no ataque ao consulado de Benghazi também se deixou contagiar: "Hillary para a prisão!" Um terceiro interveniente fez uma piada sobre a roupa da ex-primeira-dama, dizendo que ela ficaria melhor de laranja (cor da roupa dos prisioneiros nos EUA).

Até figuras destacadas do partido usaram retórica deste tipo. Chris Christie, candidato nestas primárias republicanas que acabaria por desistir para se tornar uma espécie de "número 2" de Trump, fez uma discurso bastante agressivo, em que pedia para que o público, a cada acusação que ele fazia, gritasse "culpada!". Várias vezes seguidas.

Talvez o momento mais bizarro tenha vindo de Ben Carson, outro candidato às primárias, que chegou até a liderar as sondagens nacionais. Carson diz que um dos mentores de Hillary é Saul Alinsky, que "reconhece Lúcifer" como o primeiro radical (no seu livro "Rules for Radicals"). "Pensem nisso", pede à audiência. "Estamos dispostos a eleger alguém para presidente que tem como modelo alguém que reconhece Lúcifer?"

Esta tendência  para criminalizar o debate político não é nova nem exclusiva dos republicanos – lembra-se de Bush ser acusado de criminoso de guerra? -, mas as acusações partem normalmente das bases ou de elementos afastados das lideranças. Trump está a fazer disso uma das principais vias de ataque a Clinton, colocando-a sob os holofotes da convenção, na boca de alguns dos maiores pesos pesados.

A estratégia é compreensível. Pode ser mais fácil deitar abaixo Hillary Clinton do que promover Trump. O que ambos têm em comum é a sua impopularidade. Os republicanos estão a aproveitar a má opinião que os americanos têm de Hillary para a atacar, sabendo que o seu candidato poderá não conseguir ganhar muitos pontos.
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