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OCDE revê em alta crescimento no euro, mas com inflação crítica a agravar-se

Preços menos voláteis devem avançar 5,2% em 2023, com a organização a não antecipar recuo nos juros antes de ter passado boa parte de 2024. Impacto no sistema financeiro, porém, é risco difícil de avaliar.

O crescimento do consumo foi essencial para a recuperação do PIB no primeiro trimestre deste ano.
Heinz-Peter Bader/Reuters
17 de Março de 2023 às 11:00
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Um dia depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter apresentado perspetivas de crescimento melhoradas para a Zona Euro, a OCDE revê também esta sexta-feira em alta a previsão de subida do PIB no bloco da moeda única. Para 2023, projeta agora 0,8% de crescimento, três décimas acima do que antecipava no final de novembro.

 

Mantém-se o forte abrandamento face aos 3,5% de expansão obtidos no ano passado, mas agora com a quebra dos preços da energia, sobretudo, a apoiar uma dinâmica gradual de melhoria. A OCDE sobe também numa décima a previsão de crescimento na Zona Euro em 2024, para 1,5%.

 

O pano de fundo para a melhoria das previsões é o de uma redução na inflação total, num alívio global que se junta aos dados da reabertura económica da China e aos indicadores mensais disponíveis de alguma recuperação de confiança entre empresas e famílias. A previsão de crescimento global neste ano também avança em quatro décimas, para 2,6% (2,9% em 2024).

 

Apesar de tudo, a recuperação é "frágil", avisa a OCDE logo à cabeça do documento que lança as novas projeções. E um dos fatores de fragilidade está na evolução da chamada inflação subjacente, relativa ao cabaz de preços que exclui energia e alimentação e que melhor reflete a pressões de preços no mais longo prazo.

 

Para a Zona Euro, a organização vê a inflação anual total deste ano nos 6,2%, abaixo dos 6,8% esperados há quatro meses (3% em 2024).

 

Mas, o quadro é o inverso no que diz respeito à inflação subjacente, com a OCDE agora mais pessimista quanto ao indicador que tem vindo a guiar a ação do BCE. Segundo a organização, os preços mais críticos vão ainda subir 5,2% neste ano (previa 4,7% em novembro) e, basicamente, sustentar a inflação total anual de 3%  em 2024, com uma previsão de aumento também nos 3%.

 

"A política monetária deve manter-se restritiva até que haja sinais claros de que as pressões inflacionistas subjacentes desceram de forma duradoura", diz a OCDE, a defender mais subidas de juros por parte do BCE e da Reserva Federal. "Com o recuo lento da inflação subjacente, as taxas diretoras deverão manter-se altas ao longo de boa parte de 2024", antecipa.

 

O pico mais tardio nas taxas de juros agora previsto decorrerá da persistência de subidas de preços no setor de serviços. Para a OCDE, é consequência da passagem de custos mais altos de energia e de transportes para os preços do retalho, ao mesmo tempo que a procura cresce e os custos do fator trabalho se mantêm elevados em mercados com baixo desemprego.

 

BCE e Comissão Europeia têm apontado para o aumento das margens de lucro como fator explicativo da evolução da inflação, inclusivamente já com apelos a subidas salariais num quadro de perdas generalizadas de poder de compra após sucessivos alertas para os riscos de uma espiral salários-preços.

 

O documento da OCDE, porém, vai num outro sentido. Afirma que "na maior parte dos países o crescimento salarial se mantém em percentagens que, se prolongadas por algum tempo, serão inconsistentes com o retorno da inflação à meta devido ao fraco aumento subjacente da produtividade, a menos que as margens de lucro das empresas contraiam".

 

Entretanto, os riscos de um desempenho abaixo das projeções agora avançadas continuam elevados, retoma a organização. Não só pela incerteza sobre a duração da guerra na Ucrânia e receios de novas subidas nos custos da energia, mas também pelo rumo da ação da política monetária preconizado, avisa a organização na nota publicada uma semana depois da queda do Silicon Valley Bank e alguns dias depois também da crise no balanço do Credit Suisse.

 

"A força do impacto das alterações na política monetária é difícil de avaliar e pode continuar a expor vulnerabilidades financeiras de dívida elevada e de valorizações de ativos exageradas, e também em segmentos específicos do mercado financeiro", reconhece a OCDE.

 

Ainda assim, a organização arrisca uma nota tranquilizadora. "Ações imediatas para salvaguardar os depositantes, ao mesmo tempo que se penaliza os acionistas, e regulação melhorada após a crise financeira global, reduzem o risco de contágio financeiro alargado".

 

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