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Recomendação da OCDE para mais subidas de juros é “irresponsável”, acusam sindicatos
Organização está “a fechar os olhos” à subida das margens de lucro e a insistir contra “espirais salários-preços inexistentes”, defende comissão consultiva que representa os trabalhadores.
A comissão que representa os sindicatos junto da OCDE acusa a organização de irresponsabilidade nas recomendações emitidas nesta sexta-feira, ao defender mais subidas de juros por parte do Banco Central Europeu e da Reserva Federal.
"É irresponsável defender novas subidas de juros nos Estados Unidos e na Zona Euro. É um erro face ao abrandamento económico e a uma crise financeira emergente", considerou em comunicado a secretária-geral interina da comissão consultiva sindical (TUAC) da OCDE, Veronica Nilsson.
A reação das organizações sindicais acontece depois de a OCDE ter avançado novas projeções económicas, que agravam as previsões de subida da inflação subjacente, aquele que é um dos principais indicadores a guiar nesta altura a ação dos bancos centrais e que traduz as principais subidas de preços.
No novo 'outlook' intercalar, que também revê em alta as projeções de crescimento, a OCDE defende que "a política monetária deve manter-se restritiva até que haja sinais claros de que as pressões inflacionistas subjacentes desceram de forma duradoura", e antecipa que os juros não deverão começar a cair antes de ter passado boa parte do próximo ano.
A OCDE alerta para a manutenção de subidas de preços elevadas no sector dos serviços e, contrariamente às leituras mais recentes que têm vindo a ser feitas na Europa por parte da Comissão Europeia e do BCE, continua a alertar para os riscos de subidas salariais alimentarem a inflação via efeitos de segunda ordem.
"É errado da parte da OCDE alertar contra aumentos de salários quando os padrões de vida dos trabalhadores foram severamente atingidos pela crise de custo de vista, enquanto as empresas fazem lucros recorde", critica a responsável da TUAC.
Para as organizações sindicais, a OCDE está "a fechar os olhos" à tendência de subida das margens de lucros que tem vindo a ser observada ao longo do último ano, ao mesmo tempo que alerta contra "espirais salários-preços inexistentes".
No relatório desta sexta-feira, a OCDE afirma que "na maior parte dos países o crescimento salarial se mantém em percentagens que, se prolongadas por algum tempo, serão inconsistentes com o retorno da inflação à meta devido ao fraco aumento subjacente da produtividade, a menos que as margens de lucro das empresas contraiam".
Para os sindicatos, "o aperto monetário promovido pela OCDE vai agravar o problema ao mesmo tempo que torna mais caras soluções defendidas pela OCDE para combater a inflação, como o investimento numa economia mais verde".