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Museus encerrados, acumulação de lixo e ausência de segurança. Impacto do "shutdown" é cada vez maior

A paralisação parcial dos serviços federais norte-americanos está a ter um impacto extremamente negativo nas contas do país. Mas não só. Há turistas a fazerem a sua viagem de sonho e que se deparam com os museus encerrados. Há funcionários em casa e outros a trabalharem sem receber, como os membros da Fed ou do exército.

17 de Janeiro de 2019 às 20:28
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Os serviços públicos federais dos Estados Unidos estão parcialmente paralisados há 27 dias – naquele que é o mais longo "shutdown" de sempre no país.

E não há sinais por parte da Casa Branca ou do Congresso de que estejam em curso quaisquer negociações para pôr termo a este cenário.

 

O facto de parte dos serviços do governo norte-americano estar em "shutdown" tem levado, por exemplo, muitos museus a manterem as portas fechadas, deixando os potenciais visitantes – muitos deles turistas – sem lhes poderem aceder.

 


Mas tem também trazido outras condicionantes, como o facto de o presidente Donald Trump não marcar presença no Fórum Económico Mundial que se realiza de 22 a 25 de janeiro em Davos, na Suíça.

Agora especula-se sobre se o discurso de Trump sobre o Estado da União irá decorrer como previsto, a 29 de janeiro. Nancy Pelosi, a líder democrata na Câmara dos Representantes, já instou mesmo Trump a adiar o evento por questões de segurança. Mas, a esse propósito, Kirstjen Nielsen, ministra da Segurança Interna nos EUA, escreveu no Twitter que o seu departamento e os Serviços Secretos norte-americanos estão "plenamente preparados para apoiar e garantir a segurança durante o discurso do Estado da União".


O senador republicano John Kennedy já veio dizer que Trump poderá fazer o discurso no Senado se Pelosi se decidir pelo seu cancelamento na Câmara dos Representantes. Kennedy concorda com este "shutdown", considerando que o presidente não deve fazer concessões enquanto não houver verba para o muro com o México, pois os democratas iriam aproveitar para dizer que o chefe da Casa Branca nada teria conseguido.

No entender de Kennedy, citado pela Bloomberg, não deve haver entendimento bipartidário para pôr fim ao "shutdown" enquanto as reivindicações de Trump não forem atendidas. E está convicto de que essas negociações não acontecerão antes de ser disponibilizado o dinheiro exigido. Sobre esse eventual entendimento entre democratas e republicanos, diz que isso só acontecerá "quando olharmos pela janela e virmos burros a voar".

Mas há mais. Muito mais. Um pouco por todo o lado, o "shutdown" está, de facto, a começar a doer – não só aos americanos em geral mas também à Casa Branca.

A exigência de Trump para que o Congresso financie a construção do muro ao longo de toda a fronteira entre os EUA e o México está também a ameaçar uma das bandeiras do presidente: a da desregulação financeira, com o intuito de facilitar a "navegação pelas regras" por parte dos bancos e empresas, aponta a Reuters. Isto porque a implementação das novas regras exige ainda um trabalho de verificação e avaliação que não está a ser feito.


O CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, considera que se esta paralisação prosseguir ao longo de todo o primeiro trimestre do ano, isso poderá fazer eclipsar todo o crescimento económico previsto para esse período – que se estima que ultrapasse os 2,5%.

Já o Fundo Monetário Internacional (FMI), que publica na segunda-feira novas previsões de crescimento mundial, considerou hoje que ainda é cedo para avaliar com precisão o impacto económico do "shutdown" nos Estados Unidos. "Quanto mais durar, mais significativo será o efeito", afirmou o porta-voz do FMI, Gerry Rice, sobre este encerramento parcial da administração federal norte-americana.


Este "shutdown" parcial está assim a infligir muito mais sofrimento à economia dos EUA do que se antecipava, admitiu na terça-feira o governo. Os economistas de Trump duplicaram as projeções da perda semanal de crescimento económico, nota a Vanity Fair.


Kevin Hasset, conselheiro económico da Casa Branca, projecta que o "shutdown" reduza o crecimento económico do primeiro trimestre em 0,13 pontos percentuais por semana, sublinha o Washington Examiner.


800 mil funcionários sem salário

Só por si, a perda média de 5.000 dólares de salário junto dos 800.000 funcionários federais prejudica a economia ao levar a uma redução dos gastos dos consumidores e do investimento.


"Os ‘shutdowns’ tendem a não fazer poupar dinheiro, ironicamente. A paralisação de 2013 custou aos contribuintes norte-americanos 2,5 mil milhões de dólares. Os funcionários que foram mandados para casa sem receberem salário durante o período de encerramento dos serviços tiveram depois de ser pagos, retroactivamente, por ‘trabalho zero’", acrescenta o mesmo jornal.

Com os museus, parques nacionais e até o jardim zooólogico nacional fechados, a receita federal diminuiu, durante o "shutdown" de 2013, em seis milhões de dólares – dinheiro que se perdeu na cobrança de bilhetes de entrada.


Agora, o cenário repete-se. Há turistas vindos de longe, ansiosos por percorrerem os museus Smithsonian, em Washington, que dão com todos encerrados.


Wolf Blitzer, jornalista da CNN, realça, por exemplo, que é costume ver-se longas filas de pessoas para entrarem no Museu do Ar e do Espaço, em Washington, mas que agora as entradas estão vazias.



Os parques nacionais – e não só – estão cada vez mais sujos, salienta o The Washington Post, que diz que "o lixo decora os principais pontos da cidade".

Os próprios funcionários da Casa Branca sentem os efeitos do "shutdown", dada a ausência do habitual serviço de refeições, tendo Donald Trump optado por encomendar comida a cadeias de "fast food".


Entre muitos outros exemplos, está o facto de a funcionalidade ‘e-verify’ (verificação eletrónica) estar "em baixo". Gerido pelo Departamento de Segurança Nacional, este programa ‘e-verify’ permite que os empregadores confirmem que potenciais contratações estão aptas a trabalhar de forma legal nos Estados Unidos – o que não está agora a acontecer.


Outros websites do governo sofrem neste momento de problemas idênticos, dado que os certificados de segurança de dezenas de páginas online oficiais não foram renovados. Entre eles incluem-se o Departamento de Justiça, os tribunais de recurso e a NASA.


E há mais. Esta é a primeira vez, na História da América, que as tropas norte-americanas no activo não estão a ser pagas, frisa a Rolling Stone. O mesmo acontece, por exemplo, com os funcionários da Reserva Federal dos EUA.


Outro exemplo que tem suscitado bastentes receios é o da falta de preparação para os furacões. Depois de uma violenta ‘época de furacões’, a Administração Oceânica e Atmosférica do país viu-se forçada a adiar a preparação para este ano. Ou seja, as actualizações dos modelos de previsão, as formações para emergências e os testes no terreno estão suspensos, sublinha a BBC News.


Além da referida segurança nacional, há responsáveis governamentais muito preocupados com o facto de o "shutdown" poder colocar vidas em risco. Isto porque os abrigos que acolhem pessoas vítimas de violência doméstica estão a ficar sem financiamento.

 

No Twitter, que é a rede social de eleição de Donald Trump, são muitas as críticas a esta paralisação. "Devido ao ‘shutdown’, a nossa segurança alimentar está comprometida sem as inspecções da FDA [Food and Drug Administration, autoridade de monitorização do setor], os nossos aeroportos estão menos seguros com a presença de menos agentes, os nossos parques nacionais estão a encher-se de lixo, os nossos museus estão fechados e os nossos portos de entrada não são seguros", lê-se num tweet.
 

Recorde-se que Trump disse que não assinará qualquer lei do financiamento federal – mesmo que aprovada pelas duas câmaras do Congresso [Senado e Câmara dos Representantes] – até que seja possível fechar um acordo para o financiamento do muro na fronteira com o México.

 

Esta paralisação é parcial, visto que parte do financiamento já está assegurado. Com efeito, já tinha havido aprovação prévia de 75% dos fundos para o funcionamento normal dos serviços públicos.

 

Contudo, os restantes 25% dos programas federais estão sem dinheiro, pelo que se encontram encerrados. Entre estes 25% estão programas dos departamentos da Segurança Nacional, Justiça e Agricultura.

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