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EUA abatem mísseis dos houthis, mas admitem que estratégia não está a funcionar
Os norte-americanos levaram a cabo um novo ataque contra dois mísseis antinavio lançados pelos houthis esta quinta-feira, no mesmo dia em que Joe Biden reconheceu que a ofensiva dos EUA não está a travar o conflito.
As perturbações ao transporte marítimo continuam a escalar, à medida que o conflito entre os houthis e as forças ocidentais no Mar Vermelho parece não ter fim.
O mar de "águas perigosas" foi palco de novos ataques esta quinta-feira, 18 de janeiro, com os houthis a lançarem dois mísseis antinavio em direção ao Chem Ranger, uma embarcação operada pelos Estados Unidos. Foi o terceiro ataque em três dias, que atingiu apenas as águas perto do navio, não havendo registo de feridos.
A marinha dos Estados Unidos intercetou o ataque num "ato defensivo", segundo o Pentágono, por considerar ter sido uma "ameaça iminente" à segurança marítima.
"Não estamos em guerra com os houthis", disse Sabrina Singh, porta-voz do Pentágono. "São os houthis que continuam a lançar mísseis de cruzeiro e mísseis antinavio contra tripulantes inocentes... O que estamos a fazer, com os nossos parceiros, é autodefesa", acrescentou.
Apesar de admitirem continuar com a ofensiva, a estratégia ocidental não parece estar a surtir o efeito desejado. Joe Biden acredita que um conjunto de ataques militares limitados e de sanções vão evitar um conflito mais amplo no Médio Oriente, mesmo quando Washington procura uma maior punição para os houthis.
"Os ataques estão a impedir os houthis? Não. Vão continuar? Sim", afirmou o presidente dos Estados Unidos, no mesmo dia em que a Marinha norte-americana contra-atacou os dois mísseis antinavio dos rebeldes apoiados pelo Irão, ação que "não ficará impune", segundo os houthis.
Este não é o único incidente registado durante esta semana. Na noite de quarta-feira, 17 de janeiro, o navio Genco Picardy, operado pelos Estados Unidos, foi alvo de ataque de 14 mísseis lançados pelos houthis no Golfo de Aden, provocando um incêndio a bordo. A Marinha indiana foi chamada a resgatar em segurança os 22 tripulantes a bordo, nove deles indianos.
China apela a maior segurança marítima
Pequim apelou a "todas as partes relevantes" para "garantirem a segurança da navegação no Mar Vermelho" depois de verem aquela que é a segunda maior economia do mundo em risco. "O Mar Vermelho é uma importante rota comercial internacional", disse um porta-voz do ministério do país esta quinta-feira, acrescentando que a China iria "fortalecer a coordenação com os departamentos relevantes, acompanhar de perto os desenvolvimentos e fornecer apoio e assistência atempada às empresas de comércio exterior".
Até agora, a China tinha sido publicamente neutra em relação aos ataques houthis, dado que tem construído laços estreitos com o Médio Oriente e mostrado apoio à Palestina no conflito em Gaza. Ademais, Pequim importa cerca de metade do seu petróleo ao Irão e de outros países do Médio Oriente, assim como grande parte do seu comércio com a União Europeia também passa pelo Mar Vermelho.
Mais duas semanas de viagem
Os ataques no Mar Vermelho visam uma rota que representa cerca de 15% do tráfego marítimo mundial e funciona como um canal vital entre a Europa e a Ásia para o transporte de mercadorias. Em alternativa, as opções em cima da mesa são o transporte aéreo e a mudança de trajetória marítima.
No mar, a viagem opcional passa por percorrer o Cabo da Boa Esperança, ao redor da África do Sul, num percurso que pode durar até mais 14 dias em comparação ao Canal do Suez, que tem visto as receitas a caírem a pique - cerca de 40% nos primeiros 11 dias do ano, revelou o presidente da Autoridade do Canal.
A mudança de rota está a aumentar a procura por combustível utilizado pelos navios em portos distantes, das Maurícias à África do Sul e às Ilhas Canárias. A gigante dinamarquesa Maersk, que na semana passada suspendeu as viagens pela "zona perigosa", anunciou esta quinta-feira aos seus clientes que o conflito está a causar "congestionamentos" em vários terminais de contentores em que operam.
Já as autoridades do maior porto da Europa, o de Roterdão, esperam que o tráfego se torne mais movimentado no final de janeiro à medida que os navios atrasados começam a chegar, mas não esperam quaisquer "problemas logísticos graves."
De fora podem ficar os portos de Itália e França, que acabam por ser contornados, à medida que as embarcações se afastam da principal rota do Mediterrâneo.
"Não estamos a ter um impacto muito significativo até hoje, mas é uma preocupação", disse Christophe Castaner, presidente do porto de Marselha, acrescentado que uma alternativa é que os navios que viajam por África façam escala em Marrocos e transfiram as mercadorias para outros navios, de forma a servir o Mediterrâneo.
O conflito está a afetar também o comércio "milionário" de cruzeiros, mas não se espera que o impacto geral sobre a indústria seja significativo. O Royal Caribbean cancelou duas viagens que tinha planeadas para janeiro e a operadora suíço-italiana MSC Cruises suspendeu mais três, com data para abril.
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* Texto editado por Pedro Curvelo