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Dados de 67 mil portugueses poderão ter sido usados pela Cambridge Analytica
Foram 15 os utilizadores do Facebook que estavam em solo português e aqui descarregaram a aplicação que seria depois utilizada pela Cambridge Analytica. Entre amigos e amigos de amigos foram afectadas 67 mil pessoas. CNPD diz que não tem meios para enfrentar este tipo de casos.
Pelo menos cerca de 67 mil pessoas em Portugal terão visto os seus dados serem acedidos no âmbito do caso da empresa Cambridge Analytica, acusada de ter usado sem consentimento dados de milhões de utilizadores do Facebook para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores e favorecer a campanha de Donald Trump.
O número foi dado esta quarta-feira, 16 de Maio, no Parlamento, pela presidente da Comissão Nacional de Protecção de Dados, Filipa Calvão. Bastaram 15 pessoas, que descarregaram a aplicação informática usada pela Cambridge Analytica para se chegar ao número de 67.065 potencialmente afectados, uma vez que além dos dados de quem descarregava a aplicação, esta chega também aos dados de amigos e de amigos de amigos, explicou a responsável.
Filipa Calvão está hoje na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais a requerimento do PS para falar sobre a questão da cedência ilegítima de dados pessoais pela rede social Facebook, assim como sobre as diligências tomadas pela CNPD para garantir a proteção dos dados pessoais dos utilizadores portugueses desta e de outras redes sociais.
O caso da Cambridge Analytica, cujos factos remontam ao período de 2013 a 2015, está ainda em investigação e quem coordena o processo é a autoridade de protecção de dados do Reino Unido e a ser acompanhada mais de perto pela autoridade irlandesa, onde o FB tem instalações. Os ingleses têm o apoio das restantes autoridades dos Estados Membros, incluindo da portuguesa.
Portugal sem meios
"A Autoridade inglesa está a utilizar 37 funcionários especializados, entre técnicos de informática e juristas, e tem duas grandes sociedades de advogados a dar a poio", explicou Filipa Calvão.
Em Portugal, continuou, "há aplicações que trazem este risco associado e pode a CNPD ter de fazer investigações", mas, se assim for, "vai de mãos praticamente a abanar, com três técnicos da área da informática e quatro juristas. É isto que nós temos para lidar com situações desta natureza", sublinhou.
Com explicou Filipa Calvão aos deputados, a aplicação usada pela Cambridge Analytica "permite criar e analisar perfis de utilizadores do FB através dos likes que fazem". A informação é recolhida no âmbito de uma espécie de teste de personalidade, onde são pedidas informações sobre etnia, orientação sexual, tendências politicas, o que permite criar perfis. Esta aplicação começou por ser um projecto científico no contexto universitário, que depois foi vendido à Campus Analytica "e usado para fins comerciais e outros e através de parcerias com outras empresas conseguir promover um marketing on-line personalizado, com consequências práticas nomeadamente em campanhas eleitorais".
A informação recolhida "permitia fornecer listas de eleitores alvo" e, a partir daí, ser criada informação que era disponibilizada a esses mesmos utilizadores, para os convencer num ou noutro sentido. "Isto pode implicar um condicionamento da liberdade de cada um", sublinhou Filipa Calvão. Até porque, se é certo que ao descarregar a aplicação os utilizadores estava a dar o seu consentimento, esta não era "dado com informação plena", por as pessoas não terem noção sobre "que dados estão a ser recolhidos e para que utilizações efectivas e muito menos que estão também a dar dados dos seus amigos".
O FB, que já foi ouvido sobre o assunto, "assume aqui um papel de aparente ingenuidade, de não se ter apercebido de nada" e o processo está ainda em investigação, mas "pode dizer-se que não podia ignorar aqueles acessos", considera a presidente da CNPD.
(Notícia actualizada às 15:00 com mais informação)