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Bruxelas: Há "algumas melhorias visíveis" na banca em Portugal
A Comissão Europeia identifica algumas melhorias na economia e no sector financeiro em Portugal, mas aponta ainda para mais desafios e riscos num país com "progressos limitados" na implementação de reformas. Dívida permanece em nível crítico.
São elogios tímidos os que chegam de Bruxelas. Há melhorias, algumas, na banca, mas muito permanece para fazer num sector que com muito malparado, poucos lucros e custos altos. Contas públicas melhoraram, mas situação nacional nos mercados permanece arriscada. E faltam reformas para agilizar a economia e aumentar a produtividade. Este é o balanço da equipa da Comissão Europeia que avaliou Portugal no âmbito da 5ª visita pós-programa que decorreu no final do ano passado, deixando outro aviso: o aumento do salário mínimo pode reduzir a pobreza, mas prejudica o emprego entre os jovens e menos qualificados ao crescer "mais que a inflação, que a produtividade e que os salários na economia".
O crescimento de Portugal acelerou na segunda metade de 2016 e assim deverá acontecer em 2017, mas o ritmo de expansão da actividade económica é baixo e permanece constrangido por baixa produtividade, e elevados níveis de endividamento privado e público, avaliam os técnicos da Comissão Europeia, que notam algumas melhorias no sector bancário, ainda que longe de impressionarem o olhar externo sobre Portugal.
"Algumas melhorias no sector bancário são visíveis", lê-se no início do sumário executivo do relatório de 52 páginas publicado a 27 de Março, no qual destacam o plano de recapitalização da CGD, a extensão da maturidade do empréstimo do Estado ao Fundo de Resolução, o aumento de capital do Millennium BCP concretizada em Fevereiro, e a passagem do BPI para controlo do Caixabank, com redução da exposição a Angola. Mas se há melhorias, permanecem grandes desafios, avisa-se logo de seguida.
"Apesar de alguns desenvolvimentos positivos, o sector bancário português permanece frágil, com baixa rendibilidade, almofadas de capital finas, e nível de malparado elevado", lê-se no relatório, que nota que rendibilidade caiu em 2016 e os custos permanecem elevados, e que a estratégia para lidar com o crédito malparado, embora avance na direcção correcta, "não tem uma abordagem abrangente e vigorosa, e beneficiaria de objectivos temporais".
O balanço da situação nacional é pautado por uma avaliação que deixa elogios contidos em várias áreas e avisos para os muitos riscos e desafios que o país enfrenta, considerando que Portugal fez apenas "um progresso limitado a lidar com os desequilíbrios macroeconómicos e as reformas estruturais" que lhe foram recomendadas – uma avaliação que a Comissão já tinha de resto anunciado em Fevereiro deste ano.
Nas contas públicas, o resultado orçamental de 2016 [na altura do relatório a Comissão ainda esperava um défice de 2,3% do PIB, que veio a ser de 2,1% do PIB] é positivo e cumpre as metas acordadas com Bruxelas, mas foi conseguido com ajuda do corte no investimento e as receitas do perdão fiscal. Além disso, os riscos para 2017 "são enviesados pela negativa, podendo ter origem na incerteza quanto às projecções macroeconómicas, ao potencial impacto de medidas de apoio à banca, e possíveis derrapagens na despesa". Tudo isto com uma dívida pública que permanece em "níveis críticos", e que está pressionada particularmente pelas contas da Segurança Social no curto e médio prazos (a "sustentabilidade não está garantida", escrevem, avisando para os impactos das alterações anunciadas às reformas antecipadas) e pelos riscos colocados pelas empresas públicas, em particular no sector dos transportes".
A equipa da Comissão Europeia evidencia ainda preocupação com o facto de "os indicadores de eficiência permanecerem baixos" no sector público, em particular no Fisco e nos tribunais de insolvência, com a falta de transparência com as Parcerias Público Privadas, com muita burocracia e regulamentos em algumas profissões, e ainda com a necessidade de ir mais longe na redução de custos com portos e energia. Faltam também melhores avaliações dos impactos das alterações na educação e dsa reformas passadas no mercado de habitação.
No que diz respeito ao mercado de trabalho, a Comissão pede mais flexibilidade para os contratos individuais, e dirige o principal aviso aos aumentos do salário mínimo que fazem parte da estratégia de rendimentos do Governo: "Os aumentos do salário mínimo, embora podendo reduzir a pobreza entre trabalhadores, pode prejudicar as oportunidades de emprego, especialmente para os mais jovens e menos qualificados, pois o salário mínimo está a crescer mais depressa que a inflação, a produtividade e os salários na economia".
A Comissão nota que um ritmo mais convincente de reformas ajudaria o país a crescer e a convencer os investidores da capacidade do país fazer face aos seus compromissos. "Os riscos às perspectivas [para a economia portuguesa] estão enviesados para o lado negativo e podem emergir da sensibilidade do investimento à volatilidade do sentimento de mercado e à incerteza relacionada com o sector bancário e com a implementação de reformas estruturais", avisam.