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Economia dá sinais de recuperação no segundo trimestre
Abril e Maio trouxeram alguns sinais de recuperação da actividade económica portuguesa. Não são variações muito fortes, mas apontam para uma trajectória positiva em alguns dos indicadores mais finos, depois de um primeiro trimestre débil.
Convenhamos que não era difícil. Depois de um primeiro trimestre mau, alguns indicadores dão sinais de aceleração no que resta da primeira metade de 2016. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a confiança dos consumidores voltou a uma trajectória positiva, o clima económica prosseguiu a aceleração e a sazonalidade começa a exercer o seu efeito positivo no mercado de trabalho. Montepio e ISEG esperam melhores números entre Abril e Junho. O segundo trimestre deverá ser melhor do que o primeiro.
Os números não são propriamente motivo de celebração e reflectem apenas o sentimento dos agentes económicos (consumidores e empresários), mas a tendência é positiva. Publicado ontem pelo INE, o indicador de clima económico prossegue a tendência iniciada em Janeiro deste ano, registando um crescimento de 1,2% em Maio, o quinto mês consecutivo aceleração.
Uma evolução ditada essencialmente pelo comércio, cuja confiança atingiu neste mês o valor mais elevado desde Julho de 2001, fixando-se nos 1,8% (entre Março e Abril já tinha dado um salto importante de -0,5% para 0,7%). A principal ajuda vem do comércio a grosso.
Nos outros serviços, Abril e Maio (8,6% e 7,7%) também trouxeram uma recuperação face ao primeiro trimestre deste ano que, por sua vez, tinha representado uma forte travagem face a uma segunda metade de 2015 muito forte, quando atingiu variações superiores a 10% por vários meses. A confiança nos serviços não atinge esses níveis, mas está mais forte do que nos primeiros meses de 2016.
Na construção, o panorama continua a ser muito deprimente. A confiança é negativa desde 2002. Abril revelou um arrefecimento deste indicador, mas Maio voltou a colocá-lo na trajectória de recuperação que segue desde Novembro de 2012.
O sector da indústria é aquele que motiva mais preocupação. Está a degradar-se desde Setembro de 2015 - com uma ligeira interrupção em Janeiro e Fevereiro – e não parece haver sinais de recuperação no curto prazo. Em Maio, a diminuição da confiança por parte dos industriais do sector transformador deve-se sobretudo ao pessimismo relativo à produção. Isto porque até houve um contributo positivo para este indicador no que toca às opiniões expressas no último mês sobre a evolução da procura global e sobre os stocks de produtos acabados.
Confiança dos consumidores volta a recuperar
Entre os consumidores, Maio também trouxe uma recuperação da confiança, depois de uma degradação em Abril. Passou de -11,3% em Fevereiro e Março, para -12,4% em Abril e, agora, -11,9% em Maio. O indicador regressa, assim, à trajectória positiva iniciada em 2013.
O INE justifica esta variação com o "contributo positivo das perspectivas relativas à evolução da situação financeira do agregado familiar, da situação económica do país e da poupança". Por outro lado, o principal contributo negativo continua a vir das perspectivas da evolução do desemprego.
Começa a sentir-se o cheiro a Verão?
Por falar em emprego, no mercado de trabalho, os sinais variam entre a estagnação e notícias ligeiramente positivas no primeiro mês do segundo trimestre. A taxa de desemprego de Abril ajustada de sazonalidade manteve-se inalterada em Abril, apesar de uma ligeira descida no número de desempregados (menos 2,5 mil do que em Março). Se analisarmos os dados não ajustados – mais voláteis e sujeitos a pressões sazonais positivas/negativas, nomeadamente com os "empregos de Verão" – a taxa de desemprego recua pelo segundo mês consecutivo, passando de 12,2% para 12%.
No emprego, a diferença entre dados ajustados e não ajustados também é importante. Os valores ajustados mostram uma estagnação da população empregada (menos 500 pessoas), mas os números que não têm qualquer alisamento apontam para quase mais 10 mil portugueses com trabalho.
Indicadores do Banco de Portugal mais pessimistas
Importa referir que também existem alguns indicadores que evoluem em sentido contrário. O indicador coincidente mensal para a actividade económica do Banco de Portugal recuou em Abril pelo quinto mês consecutivo, registando uma subida homóloga de 0,1%, o que traduz a leitura mais baixa em quase ano e meio.
Além disso, o indicador coincidente para o consumo privado registou também em Abril uma ligeira diminuição pelo segundo mês consecutivo, após a estabilização observada desde meados de 2015. O indicador que mede o consumo das famílias cresceu a uma taxa de 2,3%, um mínimo desde Fevereiro de 2015.
Missão impossível?
O primeiro trimestre deste ano foi bastante negativo, com uma variação homóloga de apenas 0,8%, o que fica muito longe do objectivo anual do Governo de 1,8%. O INE justificou este crescimento débil com a travagem das exportações e uma quebra do investimento.
No entanto, os economistas antecipam uma aceleração neste segundo trimestre. Depois de a economia ter praticamente estagnado em cadeia - avançou apenas 0,1% - deverá crescer entre 0,5% e 0,7% entre Abril e Junho, espera o Montepio. O ISEG também espera uma aceleração, assim como a Comissão Europeia.
Ainda assim, importa referir que já são poucos aqueles que acreditam que a economia portuguesa crescerá os 1,8% que o Governo espera. Nem instituições internacionais, nem os economistas dos bancos e das faculdades. E, caso ocorra uma divergência forte face aquilo que esperava o Executivo, as consequências podem ser muito negativas para o esforço de execução orçamental e a capacidade de atingir as metas de défice exigidas por Bruxelas.