Questionado directamente sobre a possibilidade de o inquérito à troika poder condicionar a negociação do programa cautelar, a que Portugal deverá aceder, Liem Ngoc, um dos relatores do relatório do Parlamento Europeu, disse que as conclusões do inquérito poderão ser úteis. “Se pudermos contribuir para tirar lições do que aconteceu, isso será positivo”, referiu.

Tal como o Negócios escreve na edição de hoje, o objectivo da eurodeputada Elisa Ferreira é que este relatório, a ser aprovado em Março, possa influenciar a negociação do programa cautelar, que se deve aplicar a partir de Maio. O relatório está a ser redigido a duas mãos, com Liem Ngoc, socialista francês, de um lado, e Othmar Karas, austríaco do Partido Popular Europeu (PPE), do outro.

Liem Ngoc assumiu que aprendeu “muitas coisas” na visita a Portugal que terminou esta manhã com uma conferência de imprensa. “Não sabia que houve uma discussão forte entre o ex-primeiro-ministro José Sócrates e a troika sobre o ritmo do ajustamento”, afirmou. Ngoc também salientou que “houve um acordo em concertação social sobre a subida do salário mínimo que foi proibido pela troika”. “Será que isso foi bom para a coesão social? Não sei”, respondeu.

Othmar Karas afirmou, por outro lado, que é necessário “acabar com as organizações intergovernamentais”, como a troika. “É necessário que os trabalhos estejam assentes na lei comunitária”. Aliás, é por causa de não haver “políticas comuns” que o euro “é fraco durante uma crise”. “Neste momento estamos a nacionalizar as decisões europeias, mas o que temos de fazer é partilhar as nossas responsabilidades”, sugeriu.

Liem Ngoc disse ainda que, na reunião desta manhã com a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, fez “muitas perguntas” sobre o multiplicador orçamental e sobre se o “impacto recessivo das medidas foi avaliado”. “A ministra está muito optimista” sobre o sucesso do programa, afirmou Ngoc.