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Virgolino Faneca fez uma sensacional entrevista a Michael O'Leary

Virgolino Faneca conseguiu um furo jornalístico de enorme garbo. Uma entrevista ao presidente da Ryanair onde este explica tintim por tintim (e talvez pelo cão Milu) toda a estratégia da companhia aérea.

06 de Abril de 2018 às 17:00
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Caro Arnaldo

Venho por este meio contactar-te no sentido de averiguar sobre a tua disponibilidade para adquirires uma entrevista exclusiva que reputo da maior importância no contexto actual e, quiçá, no futuro. Sei que, enquanto editor do Trombeta de Deixa-o-Resto, tens um apetite voraz por conteúdos que usualmente se classificam como cachas e eu, efectivamente, tenho uma dessas, graças ao meu faro jornalístico que muitos invejam, o qual obtive dada a minha convivência com rafeiros alentejanos que também são muito bons na questão do faro e quando topam caça até parece que são de Olhão.

Sem delongas, informo-te que consegui uma entrevista ao senhor Michael O’Leary, dono da companhia aérea que dá pelo nome de Ryanair, a qual se reveste da maior acuidade na medida em que uns aeromoços e umas aeromoças portuguesas resolveram fazer greve, colocando em causa a sustentabilidade e a reputação desta extraordinária da empresa. E não vejas nestes meus adjectivos qualquer sinal de que sou tendencioso, embora tenha ficado enternecido com o facto de o senhor Michael me ter oferecido um voucher para viajar gratuitamente na Ryanair durante o período do Verão, tendo tido a amabilidade acrescida de me disponibilizar lugares no porão, dado que esta época do ano é tradicionalmente quente.

Para que possas ajuizar sobre a acuidade da dita e me possas oferecer um preço justo pela mesma, anexo aqui excertos da esclarecedora conversa, de extrema relevância para os dilectos leitores da tua prestigiada publicação. Ora aqui vai.

 

Como comenta a greve dos tripulantes de cabina portugueses da Ryanair?

MO’L: Acho que Portugal está muito atrasado em termos de lei do trabalho.


Como assim?

MO’L: Não faz sentido, em pleno século XXI, existir uma lei que permite greves só porque nós não fazemos as vontades aos meninos e às meninas.


Bem, não se trata de vontades. As reivindicações são as de que a Ryanair cumpra as regras da parentalidade, garanta o ordenado mínimo e retire processos disciplinares por motivo de baixas médicas ou vendas a bordo abaixo dos objectivos.

MO’L: E acha isso bem? Francamente. Andam todos os dias a voar e a conhecerem sítios novos, algo impossível numa outra profissão, damos-lhes dinheiro para compraram souvenirs e ainda querem mais! Ora bolas. E essa coisa de estar doente não está com nada. Que metam baixa nos dias de folga porque nós somos uma companhia aérea, não um hospital.


Parece-lhe legítimo ameaçar os grevistas com represálias?

MO’L: Não só é justo como absolutamente necessário. Já viu se o mau exemplo chega aos tripulantes de outros países e estes começam também a fazer reivindicações e ameaçar com greves? A minha sustentabilidade e, porventura, a da Ryanair ficam em causa.

A sua sustentabilidade. Como assim?

MO’L: Sem dinheiro suficiente, como é que pago as viagens em companhias que têm primeira classe e tratam os passageiros como clientes? A Ryanair é para o povo. Eu sou da elite e não estou para ser tratado como um indistinto num rebanho.

Isso é uma revelação. A Ryanair trata os passageiros como rebanhos?

MO’L: Usou a palavra apropriada. Trata-se de uma revelação na medida em que existe um rebanho de fiéis de Ryanair dos quais sou o líder carismático e sigo a máxima inquestionável façam o que eu digo, não façam o que eu faço.

Portanto, não vai satisfazer as exigências dos tripulantes de cabina?

MO’L: Claro que vou. Pensa que sou insensível? Além de vendas a bordo, vão também autorizá-los a fazer vendas em terra e a introduzir jogos diferentes, como o bingo, para quebrar a monotonia.

 

Arnaldo, isto que aqui lês é só um "amuse­-bouche". A entrevista é tão suculenta quanto um bife "kobe", estou pronto a negociar o preço e posso até ser pago em viagens, visto que gosto muito de raspadinhas e jogar bingo. Para bom entendedor, meia entrevista basta. Fico a aguardar o teu contacto.

Com os melhores cumprimentos,

Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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