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Virgolino Faneca escreve sobre o tema que realmente transtorna o país

Andam-nos a atirar areia para os olhos com o défice, o bloco central e os desaguisados na gerigonça só para esconderem o assunto que pode fazer colapsar o país, a zanga entre Nilton e Luciana Abreu. Perceba porquê.

27 de Abril de 2018 às 17:00
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Cara Vanessa

Escrevo em desespero de causa porque realmente há coisas que não se entendem, por muito esforço que se faça. É nestas alturas, em que o mundo (e particularmente o nosso Portugal) parece estar de pernas para o ar, que emerge um incontido desapontamento.

Digo isto derivado da inversão de prioridades que tomou de assalto a sociedade. No mundo passa-se muito isso, mas eu prefiro ater-me ao que se verifica no nosso rectângulo.

Por exemplo, Vanessa, repara na preocupação com que o país olha para temas como a lei da habitação, o défice, o bloco central, os desaguisados na gerigonça e até a lombalgia do Jonas, transformando-os no ópio do povo, fazendo de conta que não se passam coisas mais importantes, o que é uma falsidade.

Qual a relevância de haver um acordo para a descentralização? Só para os autarcas que vão comer da gamela… Uma nova lei da habitação? Têm um problema em Lisboa e no Porto e querem transformá-lo num assunto nacional? E o défice?!... Como se o défice desse de comer a alguém… Isto já para não falar da lombalgia do Jonas, que apenas interessa aos lampiões, por estes dias bastante aziados.

Dão-nos estes opiáceos para que nos esqueçamos dos temas verdadeiramente estruturantes e decisivos para a construção de um futuro. Um deles, que pode até mudar a natureza do regime, é a zanga entre Nilton e Luciana Abreu. Não te rias, Vanessa, porque o assunto é realmente importante. Transcendente até. Se bem te recordas, o Nilton insinuou que a Luciana era "poucachinho" ao nível do intelecto. E esta respondeu forte. "Tomei conhecimento da tua última pseudopiada, de qual só tu achas graça, relativamente a eu me ter referido de que tenho sido mãe e pai das minhas filhas. Claro que eu sei que tu não sabes, nem nunca terás a inteligência para saberes ao que eu me referia. (…) Eu tenho quem me promova, e não preciso de fingir que trabalho na rádio só para ter a oportunidade e ocasião de poder promover aquilo a que chamas espectáculos."

Até aqui, isto podia parecer um assunto de revista cor-de-rosa. Contudo, o caso muda de figura porque a Luciana Abreu foi ao Vaticano para falar com o Papa Francisco, solicitando-lhe que intervenha na Rádio Renascença que, como se sabe, é propriedade da Igreja Católica, no sentido de despedir o herege do Nilton. Luciana aspergiu-se e o Papa prometeu tomar conta do assunto, atendendo a que a "menina rica sem sonhos/pobre em ouro" se tem mostrado uma profunda devota.

Aqui reside o busílis, na medida em que se trata da intromissão do sagrado em assuntos do profano, ressuscitando os tempos que sua eminência, o cardeal Cerejeira, despachava os assuntos de Estado em comunhão com o professor Salazar. Exagero, Vanessa? Olha que não. De uma penada, a Igreja porá em causa valores como o perdão e a piedade, satisfazendo os caprichos de uma moça que nem sequer é casada segundo os princípios de Deus. Depois, os outros comediantes, hereges empedernidos, irão montar cerco à rádio, podendo provocar um choque de titãs entre o sagrado e o profano que nem o padre Vítor Melícias conseguirá conciliar. Às tantas, começa-se a duvidar dos milagres da irmã Lúcia, as aparições da Fátima são exorcizadas e vai tudo raso. Afinal, avisado era o aviso: a futilidade mata.

Ainda achas que estou a exagerar, Vanessa? Bem me parecia! Em minha opinião, o melhor é fazer uma espécie de "perdoa-me", com o Nilton e a Luciana, intermediado pelo padre Borga, uma espécie de simbiose dos dois, porque diz piadas e canta em simultâneo.

Confesso-te que o Presidente Marcelo está igualmente preocupado com o diferendo destes dois vultos da nossa cultura, a tal ponto que já se dispôs a condecorá-los com a ordem da Instrução Pública pelos altos serviços prestados à causa da educação e do ensino. A bem da nação.

Um xi deste teu,

 

Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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