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Virgolino Faneca revela os outros interrogatórios a Sócrates

O destemido Faneca sacou uns dvd's com interrogatórios ao antigo primeiro-ministro que até agora eram deconhecidos. A sua divulgação, aqui, vai de certo mudar a forma de olhar para a Operação Marquês.

20 de Abril de 2018 às 17:00
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Prezada Alice 

Sei que te desunhas por novidades do caso Sócrates e/ou da Operação Marquês e que, nesta medida, terás ficado de papinho cheio com as revelações televisivas feitas pela CMTV e pela SIC, tendo como pano de fundo os interrogatórios ao ex­-primeiro-ministro. Nelas se comprova, pelo comportamento do dito, que os animais ferozes não gostam mesmo de ser enjaulados. Dito de outra forma, a exiguidade do espaço onde as conversas decorreram permite três conclusões imediatas:
1) a de que a desmaterialização dos serviços públicos é uma miragem;
2) a de que José Sócrates não convive bem com espaços fechados;
3) a de que no Ministério Público se cultiva um estilo cinematográfico inspirado em Manoel de Oliveira, i.e., um único e prolongadíssimo plano para contar uma história.

Feito este intróito, segue uma confissão. Tenho, em meu poder (poderia ter, mas não poder), DVD inéditos com outras inquirições a José Sócrates, os quais possuem a vantagem de terem sido filmados por um primo do Quentin Tarantino. De modo que estamos sempre à espera de ver a Uma Thurman irromper com um sabre para servir a justiça numa bandeja, ou o Christoph Waltz a entrar com o Django na sala, apresentando-se como dentista.

E é material do bom. Muito bom, mesmo. Só para que percebas a magnitude do que estamos a falar, deixo-te aqui uns exemplos dos interrogatórios de Carlos Alexandre e Rosário Teixeira a José Sócrates.

 

Carlos Alexandre (CA): Já ouviu a expressão "o diabo veste Prada"?

José Sócrates (JS): O senhor juiz que me desculpe, mas isso não é uma expressão, é o título de um filme com a Meryl Streep.

CA: Então comprou o casaco para a Meryl Streep?

JS: Nem sequer a conheço. Porque lhe havia de comprar um casaco?

CA: Então comprou um casaco Prada para quem?

JS: Para o procurador Rosário Teixeira.

CA: Não terá sido para o seu filho?

JS: Não foi o senhor juiz que disse que o diabo veste Prada?

CA: Vamos lá ver se nos entendemos…

JS: …Pois, mas diabo é que o meu filho não é.

CA: Ó Uma Thurman, podes chegar aqui?

JS: Quem é a Uma Thurman?

CA: É uma senhora habituada a cortar as unhas a animais ferozes. Já vai ver, não custa nada.

 

Já com o procurador, a conversa versou outros temas, igualmente telúricos.

 

Rosário Teixeira (RT):O senhor não me levante a voz.

JS: Eu ainda nem sequer abri a boca!

RT: Mas já sei que vai levantar a voz.

JS: Pois. Está a ver. Isso prova o que digo. O senhor procurador acusa sem provas.

RT: Não é verdade.

JS: Como se atreve a dizer que fui corrompido pelo doutor Salgado?

RT: Eu ainda não disse isso.

JS: O sr. procurador não pode ser assim, uma virgem vestal.

RT: E o Carlos Santos Silva.

JS: O Carlinhos, se não me emprestasse dinheiro, ficava deprimido. Eu, como gosto de pessoas sãs a meu lado, aceitava.

RT: Espere que vou chamar um dentista para lhe extrair o siso.

JS: Esse já não tenho.

RT: Não faz mal. Ó Christoph Waltz, pode vir aqui por obséquio? E traga aquele black & decker de dentista que tem um tambor de seis brocas.

 

É isto. Fantástico, não achas?

 

Um ósculo deste teu,

 

Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

 

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