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Virgolino Faneca apalpa a fruta da dona Preciosa para prever o futuro

Jemina Packington advinha o futuro através dos aspargos. Virgolino foi mais longe, perscrutando o futuro a partir das entranhas dos disópiros. Ainda tentou com marmelos mas a coisa correu mal

03 de Março de 2017 às 17:00
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Caro Fortunato

Pois que venho pela presente responder à tua permanente inquietação sobre o estado do nosso país. Sendo que não disponho de recursos financeiros para mandar fazer uma TAC e nem mesmo para realizar análises sanguíneas, o que te posso dizer é que o meu diagnóstico resulta da apalpação dos dióspiros da dona Preciosa.

Não, não se trata de uma piada rasca, mas de uma verdade pia porque a dona Preciosa é merceeira e comercializa dióspiros no seu distinto estabelecimento. E eu, desde que vi a vidente inglesa Jemima Packington adivinhar o futuro baseando-se no modo como os aspargos caem no chão depois de lançados ao ar, fui-me aperfeiçoando na arte de perscrutar o que o amanhã nos reserva através da polpa gelatinosa do dióspiro.

A minha dificuldade está em ater-me num único facto, atendendo à frondosidade da actualidade, tanto nacional como internacional. Por exemplo:

- Poderia falar sobre as eleições no Sporting, mas ainda não percebi se os candidatos são Bruno de Carvalho e Madeira Rodrigues ou José Maria Ricciardi e Godinho Lopes;
- Poderia reflectir sobre João Braga e a filosófica frase "agora basta ser-se preto ou gay para ganhar Óscares", mas não sei quem é João Braga nem tenho pachorra para fazer pesquisa na internet;
- Poderia debruçar-me sobre o sucesso do Carnaval luso, mas ainda estou em processo de descongelamento depois do frio que apanhei no corso de Ovar, onde participei mascarado de Sansão. Mas sobre isto só teria uma singela coisa a dizer: o Carnaval, tal como o Natal, devia ser quando um homem quisesse, por exemplo, no quentinho de Julho e Agosto para não fazermos figuras ridículas;
- Poderia tecer considerações sobre "offshores" e o senhor ex-secretário de Estado das Finanças, Paulo Núncio, mas em matéria de toureio a cavalo as minhas preferências vão para o saudoso Mestre João Branco Núncio;
- Poderia discorrer sobre a Operação Marquês, mas seria como andar às voltas na rotunda do dito sem encontrar uma saída ou à espera que um carro embatesse no veículo do qual sou proprietário para ganhar uma pintura à borla;
- Poderia revelar-te o número que calça a conselheira de Trump, Kellyanne Conway, que se ajoelhou com os sapatos calçados num sofá da Sala Oval, mas tenho medo de ser perseguido pelo FBI por divulgar informação confidencial;
- Poder, podia, só que a dona Preciosa nesta época do ano não tem dióspiros - só há no Outono, senhor Virgolino - e aconselhou-me a fazer apalpação de marmelos, sugestão que verbalizou enquanto projectava o seu generoso busto na minha direcção. Eu apalpei-os e não consegui ver futuro nenhum. Em contrapartida, vi a sombra do marido da dona Preciosa, o senhor Anacleto, a perguntar-me se eu não tinha fruta em casa. Respondi afirmativamente e vim para casa escrever esta carta. Se puderes, manda na volta uma caixa de dióspiros para que eu consiga exercer a minha vidência a preceito.

Um abraço deste que te estima,

 

Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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