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Virgolino Faneca tem plano para combater os fascistas

Virgolino dá toda a razão à Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e propõe que se eleve o grau de controlo democrático em nome da verdade absoluta.

10 de Março de 2017 às 17:00
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Distinta AEFCSHUNL

Esta carta é dirigida ao colectivo da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, de ora em diante designada por AEFCSHUNL, e serve para manifestar o meu veemente, total e inequívoco apoio às acções por vós encetadas de modo a proibir o fascista do Jaime Nogueira Pinto de dar uma conferência sobre "A Nova Portugalidade" no vosso distinto estabelecimento de ensino.

Aliás, como constatava Roland Barthes, "a língua é fascista". Por isso, qualquer coisa que o senhor Nogueira Pinto fosse dizer na dita conferência seria fascista, uma conclusão que reforça a justeza da vossa posição, desafortunadamente incompreendida por muitos que vos acusaram de serem intolerantes e quejandos.

A minha opinião é precisamente a contrária. Vocês, AEFCSHUNL, elevaram a democracia ao pináculo, porque a verdadeira democracia é aquela que nós defendemos enquanto detentores da verdade absoluta. A dos outros, incluindo a de Jaime Nogueira Pinto, é uma meia-verdade ou uma não-verdade e como tal incorre no grave risco de querer passar por aquilo que não é, ou seja, por verdade absoluta. Que sentido faz ouvir os outros quando achamos que não têm um pingo de razão ou que o seu discurso enferma de erros e encerra perigos para o nosso dilecto Portugal democrático? Nenhum. É cortar o mal pela raiz, até porque estas coisas podem tornar-se rizomáticas, minando as bases dos nossos axiomas.

Neste contexto, venho propor-vos que alarguem a vossa acção de prevenção, saindo do espaço universitário, para se tornarem num pós-moderno Fahrenheit 451, os bombeiros que erradicam os males fascistóides que andam por aí, disfarçados de pluralidade.

Por exemplo, podemos começar por queimar todos os livros onde conste o nome de Salazar. A seguir, todos os que tiverem sido publicados por Jaime Nogueira Pinto. Depois, acabar com a biblioteca de Marcelo Rebelo de Sousa, porque é filho de alguém que era um salazarista convicto. A seguir, proibir o uso em todas as conferências de palavras como nacionalidade, nacionalismo ou similares. De uma penada, avançamos também contra todos os taxistas que costumam dizer "isto no tempo do Salazar é que era bom", reabilitando o forte de Peniche como prisão. E, sem medos, espalhamos os vigilantes da nossa causa pelos sítios onde se produzem notícias, munidos de lápis de cor azul aço, para mostrar a força com que é temperado o processo revolucionário em curso de implantação da nossa verdade.

Para tal, podemos mesmo reverter o edifício da faculdade, dando-lhe a nomenclatura e o uso original, o de Quartel do Trem Alto, fazendo dele a base para a disseminação musculada da nossa verdade. Pelo caminho, recuperamos as cavalariças que lá existiam, de forma a ter espaço para arrumar os equídeos que agora frequentam a dita.


Aguardo as vossas iluminadas ordens e despeço-me com elevada estima,

Virgolino Faneca


PSR (Post Scriptum Revolucionário): Esta missiva foi escrita com o apoio técnico de Polvo da Silva, um cefalópode que herdou as capacidades premonitórias do seu primo Paul e possui conhecimentos tentaculares em vários areópagos do poder, circunstância que pode ser muito útil à nossa causa. 


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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