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Empresas europeias só consideram um terço das emissões de Scope 3 nas estratégias de descarbonização

Estudo da Capgemini e da CDP revela que as empresas ignoram os principais focos de emissões poluentes que ocorrem na sua cadeia de valor.

31 de Agosto de 2023 às 08:57
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Apesar de haver uma vez cada vez maior transparência das empresas europeias relativamente aos seus compromissos com a descarbonização, com a declaração das emissões junto do CDP a aumentar 56% nos últimos três anos, apenas 37% das emissões de Scope3 são atualmente abrangidas pelas medidas de descarbonização, uma vez que as empresas estão a ter dificuldades em definir ações de impacto para pontos críticos destas emissões.

O estudo foi realizado em conjunto pela Capgemini Invent e pelo Carbon Disclosure Project (CDP), organização que gere o sistema mundial de divulgação ambiental para empresas, cidades, estados e regiões, com o intuito de analisar as estratégias de descarbonização das empresas na Europa em 17 setores e a forma como evoluíram entre 2019 e 2022.

A esmagadora maioria (92%) das emissões divulgadas pelas empresas europeias em 2022 foram de Scope 3 (emissões indiretas, não incluídas no Scope 2, que ocorrem na cadeia de valor da empresa), com a utilização de produtos vendidos (57%) e bens e serviços adquiridos (17%) citados como os principais pontos críticos das empresas. Houve um aumento de 28% nas categorias do Scope 3 divulgadas ao CDP em 2022, em comparação com 2019.

"A nossa análise revela que, embora tenham sido feitos alguns progressos rápidos pelas empresas líderes, particularmente na definição de objetivos com base científica, a maioria precisa de tomar medidas mais decisivas para abordar rapidamente as suas emissões de âmbito 3", comenta Maxfield Weiss, diretor executivo do CDP Europa. "Com a necessidade urgente de alinhar a descarbonização corporativa com o limite de 1,5°C, as empresas precisam de estabelecer agora planos claros de transição climática que proporcionem a redução de que precisamos para manter a nossa economia e sociedade seguras", acrescenta em comunicado.

As metas de emissões líquidas nulas ainda estão a dar os primeiros passos, apesar da sua rápida aceitação, com apenas 8% das empresas a comunicarem que estabeleceram metas de emissões líquidas nulas aprovadas pela iniciativa Science Based Targets (SBTi) e mais 14% com as suas metas pendentes de validação. Embora o número de empresas que divulgam ao CDP tenha crescido significativamente, 23% das empresas ainda não tinham metas de redução de emissões em 2022.

O estudo constata que 47% das empresas relataram ter metas de redução de emissões absolutas aprovadas pelo SBTi, em comparação com apenas 14% em 2019. No entanto, as metas absolutas aprovadas pelo SBTi cobrem apenas 13% do total de emissões de gases de efeito estufa divulgadas pelas empresas ao CDP em 2022. Isso reforça a necessidade urgente de as empresas com maior impacto nas emissões estabelecerem metas de redução robustas alinhadas com as trajetórias de 1,5°C, destaca o estudo.

"À medida que as empresas procuram atingir os seus objetivos de emissões líquidas nulas, é imperativo que estabeleçam objetivos de curto e longo prazo para monitorizar as suas jornadas de descarbonização. Novas tecnologias, como o hidrogénio com baixo teor de carbono e a eletrificação de processos, terão de ser implementadas em grande escala. Isto exige uma mudança nas políticas regulamentares e uma abordagem inovadora, a fim de permitir a dupla transição para uma economia sustentável e digital", afirma Roshan Gya, CEO da Capgemini Invent.

O relatório conclui ainda que, de um modo geral, as empresas estão a fazer progressos na redução do impacto ambiental das suas operações, com uma redução de até 40% nas emissões dos âmbitos 1 e 2, conseguida sobretudo através de medidas de eficiência energética.

Atualmente, os setores que dependem da eletricidade têm mais oportunidades de descarbonizar o seu cabaz energético e de se protegerem das flutuações dos preços do mercado da energia do que outros.

Em 2022, as energias renováveis cobriam menos de um terço da energia utilizada na grande maioria (70%) dos setores analisados, o que sugere que ainda há grandes reduções de emissões a obter através do abastecimento de energias renováveis.

À medida que as organizações adotam cada vez mais ações de descarbonização como parte das estratégias de sustentabilidade, os dados divulgados ao CDP revelam também que esses investimentos não impediram a capacidade de aumentar a faturação.

 

 

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