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Multinacionais portuguesas não reduziram impacto ambiental de viagens empresariais

Ranking Viajar Responsavelmente avalia 328 empresas globais, entre as quais 13 portuguesas. Mota Engil, Altri e Corticeira Amorim entre as piores classificadas portuguesas do ranking.

20 de Março de 2024 às 11:59
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As 13 empresas portuguesas avaliadas na edição de 2024 do Ranking Viajar Responsavelmente demonstram todas um desempenho fraco na redução das emissões das viagens empresariais. A análise, produzida anualmente pela T&E - Federação Europeia de Transportes e Ambiente, coloca as empresas nacionais nas categorias C e D, numa escala em que A representa bom desempenho e D mau desempenho.

A pior empresa nacional classificada é a Mota Engil, inclusive penúltima do ranking global, pontuando -1 numa escala de 14. Segue-se a Altri (2 pontos) e a Corticeira Amorim (2,5 pontos), sendo que as três integram a categoria D. Entre as empresas nacionais, a mais bem classificada é o Banco Comercial Português (5 pontos), a Galp Energia (5 pontos) e a Jerónimo Martins (4,5 pontos), todas na categoria C.

Uma classificação negativa acontece quando as empresas não reportam informação suficiente ou são causadoras de emissões acima das 150.000 toneladas de CO2 e não têm pontos positivos nos restantes indicadores.

O relatório demonstra ainda que as empresas portuguesas têm um fraco desempenho em comparação com multinacionais espanholas, francesas, britânicas e alemãs, casos em que pelo menos uma empresa foi classificada com A ou B.

"Nenhuma das 13 empresas portuguesas avaliadas na edição de 2024 do Ranking Viajar Responsavelmente estabeleceu objetivos concretos para reduzir as emissões das viagens aéreas pelas quais são responsáveis. O mesmo já tinha sucedido no ano passado, o que significa que nenhuma empresa se compromete a reduzir a pegada carbónica associada às viagens de avião dos seus colaboradores", salienta Mafalda Antunes, consultora da ZERO, associação membro da Federação Europeia de Transportes e Ambiente.

A análise revela ainda uma discrepância entre empresas de países diferentes mas do mesmo setor, com algumas empresas ambiciosas a estabelecerem objetivos e outras a recusarem fazê-lo. Pelo terceiro ano consecutivo, as multinacionais portuguesas EDP, Caixa Geral de Depósitos e NOS obtiveram uma classificação C, enquanto os seus homólogos de outros países, como a empresa sueca de energias ??Vattenfall, o banco britânico Lloyds e a empresa de telecomunicações Ericsson obtêm classificações B, A e A, respetivamente. "Isto demonstra que há empresas que conseguem ser climaticamente responsáveis, adotando novas formas de trabalho, uma colaboração mais virtual, e substituindo algumas viagens aéreas por transporte público sustentável", acrescenta a consultora.

Relativamente às empresas mais bem classificadas neste ranking, o primeiro lugar pertence à Suisse RE (13,5 pontos), o segundo à Zurich Insurance Group (13,5 pontos) e o terceiro ao Lloyds Bank Group (13 pontos).

A análise, divulgada nesta quarta-feira, baseia-se numa avaliação das emissões de viagens aéreas, objetivos de redução e relatórios que as empresas participantes disponibilizam no âmbito da Campanha Viajar Responsavelmente da T&E. Este ano foram considerados 11 indicadores e cada indicador foi dividido em vários níveis de sucesso, que conferem a uma empresa uma quantidade específica de pontos.

A campanha não distingue o destino das viagens, nomeadamente se são viagens nacionais ou internacionais, mas sim a importância de reduzir as viagens aéreas, evitando todas aquelas que podem ser substituídas por reuniões online ou, por meios alternativos disponíveis, como a ferrovia. "O importante é que as empresas façam apenas as viagens de avião que não podem mesmo evitar, viajar com propósito", salienta Mafalda Antunes.

A esse respeito, a consultora da ZERO acrescenta ao Negócios que "é certo que a posição periférica de Portugal na Europa e uma rede de caminhos de ferro pouco moderna e escassa limita o potencial de melhor desempenho por parte das empresas portuguesas, mas esse melhor desempenho não está só dependente da substituição das viagens aéreas pela ferrovia. A pandemia mostrou-nos que é possível continuar a fazer negócios e alcançar uma redução significativa de emissões, simplesmente viajando menos. Através da implementação de algumas práticas como a colaboração virtual, e através do estabelecimento de planos de redução das viagens aéreas, em qualquer que seja o sítio que as empresas estão, há sempre potencial de redução".

O objetivo da Campanha Viajar Responsavelmente é que as empresas reduzam as suas emissões de viagens aéreas em pelo menos 50% até 2025, ou antes, face aos níveis pré-Covid (2019).

De entre as 328 empresas do ranking, há 25 que são responsáveis por 36% das emissões e que não têm planos para as reduzir. No entanto, se estas empresas vierem a reduzir as viagens aéreas em 50%, será possível garantir um terço da redução de emissões que é necessária alcançar até 2025 por parte da totalidade das empresas. Isto permitiria poupar o equivalente a 5,9 milhões de toneladas de CO2, o equivalente às emissões produzidas por três milhões de automóveis num ano, salienta a ZERO.

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