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Montenegro quer combater alterações climáticas “com racionalidade económica” e ambientalistas ficam apreensivos

Ambientalistas criticam visão “de curto prazo” do novo Governo em termos climáticos, mas saúdam aposta na gestão hídrica. E esperam que a retirada do mar de um ministério seja compensada com uma secretaria de Estado.

03 de Abril de 2024 às 11:30
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O novo governo pretende continuar a trabalhar a favor da agenda ambiental, garantiu o novo primeiro-ministro, Luís Montenegro, na tomada de posse do novo Governo, que teve lugar nesta terça-feira. No seu discurso salientou que "o desenvolvimento económico e social tem de ser sustentável, desde logo a nível ambiental. É possível e necessário fazer mais e melhor pelo combate às alterações climáticas, pela transição energética e pela valorização dos ecossistemas". Contudo, acrescentou que "é preciso fazê-lo com racionalidade económica, protegendo os nossos consumidores e a competitividade das nossas empresas".  

Uma questão que merece a crítica dos ambientalistas, que assinalam que as questões climáticas devem ser tratadas com uma visão de longo prazo. "As alterações climáticas obrigam-nos a uma visão de longo prazo, inclusive do ponto de vista económico", referiu Francisco Ferreira, presidente da ZERO, ao Negócios.
Acrescentando que "os prejuízos causados por não atuarmos e por não prevenirmos serão muito maiores do que uma não atuação. Portanto, do ponto de vista racional, o que fizermos para reduzir as emissões e para investirmos na adaptação climática é aquilo que tem mais racionalidade económica. Se calhar não tanto no curto prazo, mas muito mais no médio-longo prazo".

Num discurso longo que atravessou as várias áreas governativas, Montenegro defendeu ainda a nível ambiental que é necessário reforçar o investimento, público e privado, nos sistemas de água, para consumo humano e agrícola, e também no tratamento de resíduos. "A questão da água é absolutamente fundamental, já que parte importante do território depara-se com gravíssimos problemas de escassez de água, o que afeta as pessoas, a agricultura e o turismo. Temos que fazer investimentos em múltiplas soluções, reforçar as reservas de abastecimento, diminuir muito as perdas e melhorar a eficiência hídrica dos comportamentos humanos", assinalou Luís Montenegro.

A aposta na eficiência hídrica mereceu o aplauso da ZERO, apesar de ressaltar que não se conhecendo ainda o programa do Governo não será possível perceber efetivamente o que irá ser feito nesta matéria. "Tudo depende daquilo que venha a ser a concretização da política, a concretização em termos do programa de Governo. As palavras que ele utilizou foram demasiado vagas", frisa Francisco Ferreira.

Entretanto, a associação ambientalista Sciaena já havia lamentado a omissão do Mar no novo executivo governamental, que deixa de estar referenciado num ministério – no executivo anterior exista o Ministério da Economia e do Mar. "Lamentamos que não tenha sido criado um ministério responsável por coordenar todas as áreas e dimensões relacionadas com o mar, pois isto seria crucial não só para uma melhor e mais eficaz gestão dos recursos marinhos e das atividades que lá decorrem, mas também para uma maior responsabilização e agência sobre a conservação e proteção do meio", salientou Gonçalo Carvalho, coordenador executivo da Sciaena.

A ZERO partilha da mesma preocupação. "É um aspeto que nos deixa preocupados, porque a questão do mar é absolutamente crucial e transversal até a diferentes ministérios", salientou Francisco Ferreira, sublinhando que "o mar não são só as pescas, a economia do mar, com todas as suas valências, tem aspetos cruciais para Portugal e deixar de ter a identificação do mar como uma palavra presente num dos ministérios é sem dúvida uma das áreas que nos deixa para já apreensivos", referiu ao Negócios.

Ambas aas associações aguardam agora pela revelação das secretarias de Estado, onde esperam que o mar esteja presente. "Iremos em todo o caso solicitar uma reunião ao novo executivo para apresentar e discutir as 14 medidas que consideramos prioritárias para efetivamente mudar o paradigma de gestão pública do mar em Portugal, que constituem passos concretos para salvaguardar a saúde dos ecossistemas marinhos e assegurar o futuro das populações que deles dependem", garante Gonçalo Carvalho.

 

 

 

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