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Europa é o continente mais afetado pela subida das temperaturas

Nos últimos 20 anos, as mortes relacionadas com temperaturas altas subiram cerca de 30% no continente. Em julho de 2023, 41% do sul da Europa enfrentou fortes ondas de calor.

22 de Abril de 2024 às 11:43
Com as alterações climáticas, os eventos extremos – sobretudo incêndios florestais, secas e falta de água – serão cada vez mais frequentes e intensos em Portugal.
Ricardo Almeida
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As temperaturas mundiais continuam a subir e o continente europeu está a ser o mais afetado. Com as alterações climáticas a elevarem as temperaturas de 2023 para níveis recorde, o sul da Europa enfrentou ondas de calor tão fortes, em julho, que deixaram 41% da sua área em situação grave, muito grave ou extrema de "stress térmico", de acordo com um estudo do serviço de monitorização climático da União Europeia, o Copernicus, e da Organização Meteorológica Mundial (OOM).

Nos últimos 20 anos, as mortes relacionadas com o calor aumentaram cerca de 30% no continente europeu, e os mais afetados foram os trabalhadores ao ar livre, os mais velhos e as pessoas com condições pré-existentes, como os diabéticos e os doentes cardiovasculares.

Os países mais afetados por estas ondas de calor extremas foram a Espanha, a França, a Itália e a Grécia, que, em 2023, enfrentaram até 10 dias consecutivos de "stress térmico" – definido por uma sensação térmica de mais de 46ºC. A partir deste ponto, o estudo indica que se devem tomar medidas imediatas para evitar insolações ou outros problemas.

"O custo da ação climática pode parecer alto, mas o custo da inação é ainda maior", afirma a secretária-geral da OOM, Celeste Saulo, citada pela Reuters. O estudo conjunto das duas organizações indica ainda que, dos 12 meses que compõe o ano, só um é que esteve abaixo das temperaturas médias da Europa, trazendo o mês de setembro mais quente desde que existem registos. Já em 2024, a tendência de aumento das temperaturas tem continuado, e em março foi registado o décimo mês consecutivo mais quente de sempre

Desta forma, as duas organizações apelam aos governos europeus que preparem os seus serviços de saúde para problemas relacionados com as alterações climáticas e pedem à União Europeia legislação que proteja os trabalhadores ao ar livre – um dos grupos mais afetados pela subida das temperaturas.

"As temperaturas continuam a crescer, o que torna os nossos dados vitais para a preparação para os impactos das alterações climáticas", refere Carlo Buontempo, diretor da Copernicus. O tempo quente e seco que a Europa enfrentou em 2023 aumentou o número e a intensidade de incêndios no continente, com a Grécia a registar o maior incêndio em território europeu desde que há registos – foram queimados cerca de 96 mil hectares, duas vezes o tamanho de Atenas.

Para além disso, com uma atmosfera mais quente, o que permite uma maior concentração de humidade, também se registou um aumento do número e da intensidade das cheias. Na Eslovénia, as cheias afetaram 1,5 milhões de pessoas e o território europeu ficou 7% mais húmido do que a média das últimas três décadas. "Alguns dos eventos de 2023 apanharam a comunidade científica de surpresa, por causa da sua intensidade, velocidade, extensão e duração", conclui o diretor da Copernicus.

Este estudo aparece num contexto em que algumas instituições europeias estão a considerar a inação de certos governos uma falha na proteção dos direitos humanos. De acordo com o The Guardian, no início de abril, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou a Suíça por ter uma política ambiental "fraca", violando os direitos de um grupo de mulheres mais velhas, que morreram muito provavelmente em consequência de ondas de calor. Esta condenação deixa todos os executivos europeus vulneráveis a futuras sentenças em instâncias europeias, caso não fortaleçam as suas políticas de combate ao aquecimento global.

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