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Gelo do Ártico em mínimos históricos e temperaturas na Europa em alta. Assim foi março

Março foi o mais quente da história na Europa e registou, ao mesmo tempo, o nível de gelo no Ártico mais baixo em 47 anos, segundo dados do Copernicus.

08 de Abril de 2025 às 19:46
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O mês de março entra para a história climática como um dos mais marcantes em termos de aquecimento global e alterações no equilíbrio dos oceanos e da atmosfera. De acordo com o boletim divulgado pelo Copernicus Climate Change Service (C3S), da União Europeia (UE), a Europa viveu o mês de março mais quente alguma vez registado, enquanto a extensão do gelo marinho no Ártico atingiu o nível mais baixo em 47 anos de observações por satélite.

A temperatura média global da superfície do ar foi de 14,06°C em março — valor 0,65°C acima da média de 1991-2020 e 1,60°C superior ao nível pré-industrial. Apesar de não superar o recorde de março do ano passado, este foi o segundo março mais quente já documentado globalmente.

"Março de 2025 foi o março mais quente da Europa, destacando mais uma vez como as temperaturas continuam a quebrar recordes," afirma Samantha Burgess, responsável pela área de clima no ECMWF, centro responsável pelo C3S. A cientista salienta ainda que o mês foi marcado por extremos hidrológicos. "Foi também um mês com contrastes extremos de precipitação em toda a Europa, com muitas áreas a viver o março mais seco e outras o mais chuvoso dos últimos 47 anos", aponta.

A média de temperatura sobre o solo europeu foi de 6,03°C, o que representa 2,41°C acima da média histórica para o mês. O leste europeu e o sudoeste da Rússia foram as regiões com maiores desvios positivos de temperatura. Curiosamente, a Península Ibérica apresentou temperaturas abaixo da média.

Fora do continente europeu, o calor anómalo estendeu-se por regiões como o Ártico, além dos Estados Unidos e México, bem como partes da Ásia e Austrália. Por outro lado, regiões como o norte do Canadá, Baía de Hudson e leste da Rússia tiveram temperaturas abaixo da média.

O impacto do aquecimento também foi evidente nos oceanos. A temperatura média da superfície do mar foi de 20,96°C, a segunda mais alta de sempre para um mês de março. Diversos mares, como o Mediterrâneo e o Atlântico Norte nordeste, bateram recordes de calor oceânico.

Ainda mais preocupante foi o estado do gelo marinho do Ártico. A extensão do gelo em março foi 6% inferior à média, fazendo deste o menor valor alguma vez observado para o mês desde 1978. O relatório do C3S destaca que "março marcou o menor máximo anual já registado para a região" — um marco crítico, tendo em conta que é o mês em que o gelo do Ártico atinge, tradicionalmente, a sua maior extensão.

No hemisfério sul, o cenário não foi menos inquietante. A Antártica teve a quarta menor extensão de gelo marinho para esta altura, 24% abaixo da média. A maior parte do oceano em torno do continente apresentou concentrações de gelo inferiores ao normal, com exceção da parte ocidental do Mar de Weddell.

Em relação às chuvas, o boletim evidencia uma Europa dividida entre extremos. O sul do continente, especialmente a Península Ibérica, enfrentou condições significativamente mais húmidas, com tempestades e inundações. Já países como Reino Unido, Irlanda, regiões do centro da Europa, Mar Negro, Grécia e Turquia passaram por um março anormalmente seco, lê-se nos dados.

Com 20 dos últimos 21 meses a apresentarem temperaturas globais acima de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, os dados de março deste ano reforçam a urgência da ação climática efetiva. A tendência é clara: o planeta está a aquecer muito rapidamente e os sinais estão no ar, na água, no gelo e nos padrões de chuva.

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