Opinião
Na economia, a geringonça já está safa. E nós?
Já só uma hecatombe travaria a que se prepara para ser a legislatura com o maior crescimento desde a entrada no euro. Sendo natural que o Governo e os partidos que o suportam estejam satisfeitos, isso não significa que tenham conseguido pôr em marcha as alterações de que Portugal precisa. Longe disso.
Há dois anos poucos apostariam neste sucesso. O governo beneficia do facto de após grandes choques recessivos as retomas tenderem a ser fortes (já foi assim nos anos 1980) e do crescente dinamismo europeu, mas é justo concluir que as suas escolhas foram decisivas na recuperação da actividade económica e da confiança interna e externa.
Na frente orçamental, Teodora Cardoso diz que a geringonça cumpre as regras europeias pelos mínimos - o que à esquerda é com certeza um bom elogio -, as metas de défice têm sido atingidas, e a dívida pública vai baixar de forma significativa este ano e no próximo; no sistema financeiro, a prioridade dada à recapitalização e estabilização da banca foi uma aposta ganha, respondendo a uma das mais graves falhas do anterior Executivo; e o reforço do rendimento das famílias num contexto de crescimento ajudou a reequilibrar a economia interna, sem gerar défices externos.
Parece seguro afirmar que a geringonça está safa. Mas, e nós, famílias e empresas?
Aqui a avaliação é mais arriscada para os portugueses e menos positiva para o governo. É que se a consolidação orçamental pode ter sido amiga do crescimento no curto prazo, as perspectivas de médio e longo prazo continuam sombrias.
Os serviços públicos estão esclerosados, após anos de austeridade e a baixa exigência de gestão, como ficou evidenciado nos incêndios deste Verão, no mau desempenho dos hospitais, e até numa redacção frágil da proposta de Orçamento do Estado para 2018. Sem um Estado mais eficiente e de confiança, será difícil imaginar um Portugal dinâmico no longo prazo. O mesmo se pode dizer da capacidade de inovar na economia global com trabalhadores e empresários que continuam pouco qualificados em termos internacionais.
E se é certo que o mercado de trabalho está a recuperar, e que muito desse emprego tem sido criado com contratos permanentes, continuam por garantir níveis mínimos de qualidade e estabilidade laboral para uma parte importante dos trabalhadores e a taxa de desemprego permanece elevada: faltam 300 a 400 mil empregos face ao nível pré-crise, e em 2018 estaremos ainda no top-10 das economias avançadas com mais desemprego, prevê o FMI. Ao que se junta uma sociedade cada vez mais envelhecida sem que se vislumbre qualquer aposta no apoio à natalidade.
Na desigualdade de rendimentos, uma das bandeiras da esquerda, as comparações internacionais continuam a envergonhar o país, com o governo a pensar que a resposta está na via fiscal, quando o problema é bem mais grave, como mostrou recentemente um estudo do FMI.
Mário Centeno, que já terá percebido as limitações governativas da geringonça, tenta agora convencer-nos que a descida de IRS e o descongelamento das carreiras são reformas estruturais. Mas não só é (muito) discutível que se possam descrever como tal (lá iremos num artigo futuro), como perante o diagnóstico relativamente consensual dos problemas, um governo tem apostar em mais do que uma política de rendimentos e de normalização financeira.
Na frente orçamental, Teodora Cardoso diz que a geringonça cumpre as regras europeias pelos mínimos - o que à esquerda é com certeza um bom elogio -, as metas de défice têm sido atingidas, e a dívida pública vai baixar de forma significativa este ano e no próximo; no sistema financeiro, a prioridade dada à recapitalização e estabilização da banca foi uma aposta ganha, respondendo a uma das mais graves falhas do anterior Executivo; e o reforço do rendimento das famílias num contexto de crescimento ajudou a reequilibrar a economia interna, sem gerar défices externos.
Aqui a avaliação é mais arriscada para os portugueses e menos positiva para o governo. É que se a consolidação orçamental pode ter sido amiga do crescimento no curto prazo, as perspectivas de médio e longo prazo continuam sombrias.
Os serviços públicos estão esclerosados, após anos de austeridade e a baixa exigência de gestão, como ficou evidenciado nos incêndios deste Verão, no mau desempenho dos hospitais, e até numa redacção frágil da proposta de Orçamento do Estado para 2018. Sem um Estado mais eficiente e de confiança, será difícil imaginar um Portugal dinâmico no longo prazo. O mesmo se pode dizer da capacidade de inovar na economia global com trabalhadores e empresários que continuam pouco qualificados em termos internacionais.
E se é certo que o mercado de trabalho está a recuperar, e que muito desse emprego tem sido criado com contratos permanentes, continuam por garantir níveis mínimos de qualidade e estabilidade laboral para uma parte importante dos trabalhadores e a taxa de desemprego permanece elevada: faltam 300 a 400 mil empregos face ao nível pré-crise, e em 2018 estaremos ainda no top-10 das economias avançadas com mais desemprego, prevê o FMI. Ao que se junta uma sociedade cada vez mais envelhecida sem que se vislumbre qualquer aposta no apoio à natalidade.
Na desigualdade de rendimentos, uma das bandeiras da esquerda, as comparações internacionais continuam a envergonhar o país, com o governo a pensar que a resposta está na via fiscal, quando o problema é bem mais grave, como mostrou recentemente um estudo do FMI.
Mário Centeno, que já terá percebido as limitações governativas da geringonça, tenta agora convencer-nos que a descida de IRS e o descongelamento das carreiras são reformas estruturais. Mas não só é (muito) discutível que se possam descrever como tal (lá iremos num artigo futuro), como perante o diagnóstico relativamente consensual dos problemas, um governo tem apostar em mais do que uma política de rendimentos e de normalização financeira.
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