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17 de Fevereiro de 2018 às 15:00

Desafios do jornalismo (uma despedida)

Embora tema que o sector esteja preso num mau equilíbrio que carece de novas políticas e atitudes, estou convencido que é possível fazer melhor jornalismo com os jornalistas que temos. Pelo meu lado deixarei a partir desta semana de contribuir para essa mudança. Aceitei um novo desafio, também de serviço público, que abraço com o entusiasmo que já me falta no jornalismo. Para lá levo o muito que aprendi, e a gratidão aos que me ensinaram e ajudaram, jornalistas, fontes e, claro, os leitores.

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Há uns meses, Ferreira Fernandes escreveu um elogio fúnebre ao Pedro Rolo Duarte, lamentando muito certeiramente que "jornalistas há, falta é quem saiba reinventar os jornais". A ideia ficou por aqui a ecoar.

Ao longo dos 15 anos em que exerci a profissão, e em particular no último terço, vi as redacções a progressivamente desinvestir na valorização do conhecimento, a darem piores condições aos jornalistas, em particular os mais novos, e a oferecer, em média, informação de pior qualidade aos cidadãos.

Hoje os jornalistas têm de responder a um número maior e mais diversificado de solicitações, o que penaliza cada uma dessas respostas, e, mais grave, estão confusos sobre qual é, afinal, o seu papel numa sociedade em permanente e rápida transformação informativa e tecnológica. Isto vem pesando na imaginação e na dignidade das redacções e até, infelizmente, na disciplina da verificação que é a essência do bom jornalismo. Infelizmente, muitas vezes, o sentido de missão e o valor inestimável da credibilidade e do rigor têm cedido ao pragmatismo e à rapidez estéril e repetitiva.

Não quero com isto dramatizar demais. É claro que continuamos a ter jornalistas apaixonados e de uma dignidade quase poética, comprometidos com o rigor e a profundidade, empenhados na permanente avaliação da relevância editorial do material que lhes chega às mãos, e que mantêm as devidas distâncias das suas preferências pessoais, e resistem a ser meras caixas de ressonância dos interesses das fontes. Continuamos a ter exemplos de coragem, de vigilância dos poderosos, e de grande engenho a contar as histórias que nos fazem perceber o mundo. Nestes anos tive o privilégio de conhecer vários e de trabalhar directamente com alguns nos jornais por onde passei, nos outros órgãos de comunicação social com os quais contactei, na Economia Info, nas várias iniciativas e organizações em que fui participando, do Fórum de Jornalistas ao Congresso dos Jornalistas, e à Casa da Imprensa. A alguns tenho até a sorte de chamar amigos, e descansa-me saber que continuarei a vê-los a fazer bom jornalismo - ou pelo menos a tentar.

São eles que me levam a dar razão ao Ferreira Fernandes. Pesados os pratos é justo dizer que jornalistas até temos, o que nos falta é quem saiba ou queira reinventar os jornais para além das mudanças de design (a moda de há uns anos) e das "reestruturações" (a moda dos últimos anos de crise).

Não quero minimizar o desafio e o esforço dos que, estando em cargos de direcção e de administração, vão tentando reinventar o bom jornalismo e dar sustentabilidade à indústria. Acho aliás que estão a enfrentar uma missão inglória. É que dificilmente as forças de mercado garantirão uma reforma eficiente e justa deste pequeno sector nacional, pressionado pela crise e pelas permanentes e estimulantes transformações tecnológicas e do valor da informação. Sem melhores regulação e auto-regulação, sem apoio público a novos projectos e sem mais reflexão sobre as condições e consequências da concorrência em Portugal, a indústria pode estar presa num mau equilíbrio por muitos mais anos. Ainda assim, estou convencido que é possível fazer melhor jornalismo com os jornalistas que temos. 

Pelo meu lado, deixarei a partir desta semana de contribuir para a mudança. Aceitei um novo desafio, também de serviço público, que abraço com o entusiasmo que já me falta no jornalismo. Para lá levo o muito que aprendi, e a gratidão aos que me ensinaram e ajudaram, jornalistas, fontes e, claro, os leitores.
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