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20 de Setembro de 2016 às 00:01

Mariana tem toda a razão

Mariana Mortágua é a estrela política do momento. E, como qualquer estrela precisa de palco para se afirmar, a passadeira que o PS lhe estendeu tem servido para a sua afirmação de uma forma que o Bloco nunca conseguiria proporcionar.

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Andamos todos a discutir coisas como o novo imposto sobre o património imobiliário elevado, o acesso do Fisco às contas bancárias, medidas do Orçamento que vai replicar uma receita que já vimos este ano. Importante, sim, mas longe de ser o fundamental.

Quando, num evento do PS, Mariana Mortágua diz que "cabe ao PS pensar sobre o que representa o capitalismo e até onde está disposto a ir para constituir uma alternativa global ao sistema capitalista", tocou no ponto essencial da questão. É exactamente isto. É por isso que a discussão já deixou de ser financeira, fiscal ou económica. A discussão é esmagadoramente política, e quem não perceber isto vai continuar a olhar a árvore à lupa, enquanto se perde alegremente na floresta.

O Bloco está a ter um protagonismo e, mais do que isso, uma influência real em políticas reais que nunca sonhou ter, até à invenção da geringonça. E percebeu, ao contrário de um PCP que parece ainda constrangido no seu novo fato, que esta é uma oportunidade única para influenciar o rumo do PS – o porta-aviões da esquerda – e para colocar em cima da mesa aquilo que, até aqui, não passava de uma discussão filosófica e relativamente estéril: a discussão do nosso modelo enquanto economia e enquanto país.

Não vale a pena criticar a deputada, que está a ser terrivelmente competente e eficaz. O Bloco quer forçar essa discussão, quer obrigar o PS a definir-se, quer que o partido liderado por António Costa seja o que não quer nem nunca poderia ser: um Podemos ou um Syriza mais ou menos institucional.

Quando Mariana Mortágua diz o que diz e é aplaudida, perante o sorriso embevecido de deputados socialistas, o seu desafio ganha ainda mais relevo. Mariana tem toda a razão: cabe ao PS definir-se, assumir-se, juntar-se ou demarcar-se, e aceitar o julgamento político pela opção tomada. Até aqui, António Costa tem tratado de tudo com o seu sorriso melífluo, um pé em cada margem, meia bola e força e depois logo se vê.

O problema é que não só as opções políticas impulsionadas pelo Bloco são um erro que a nossa economia pagará, como esse modelo, essa busca de "uma alternativa global ao sistema capitalista", é pura e simplesmente incompatível com os compromissos que o país assumiu perante os nossos parceiros internacionais. Sabemos que o Bloco – e também o PCP – desejaria que fizéssemos desses compromissos letra morta, mas também sabemos que Costa sabe que essa é uma guerra que não pode ganhar, pelo menos sozinho e no curto prazo.

E é por isso que Mariana tem razão, toda a razão, e a sua inquietação deve ser respondida pelo PS o quanto antes: até onde está o partido disposto a ir? Muito do que espera o país no curto e no médio prazo depende dessa resposta. 

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