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Raul Vaz raulvaz@negocios.pt 19 de Julho de 2017 às 00:01

Portugal, o céu e a terra

Um país que surpreende a Europa e cresce acima das melhores previsões, palavra do comissário da poda; um país que concorre no seu território por uma agência europeia, a do medicamento; um país de peito feito lá fora ("Juntos [com o México] somos imbatíveis"), na palavra do Presidente. Neste país fechou a urgência da maior maternidade do país. Porca miséria!

A Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, tem uma história. Uma parte do país veio de lá, outra parte resistiu à sua deslocalização. Numa viagem em que o poder político se foi adaptando tal como uma vulgar barriga de aluguer. A maternidade continua a ser a referência e o refúgio do que pode correr mal.

Chegados à cesariana do menor défice em democracia, é preciso, imperioso, falar com a parteira (o termo é, propositadamente, apreciativo). Há, ou não há, cativações na área da saúde? Claro que o Governo e o ministro Adalberto Campos Fernandes (um homem sério e bem-intencionado) dirão que é um problema corporativo. Pois é: um protesto de zelo dos enfermeiros especializados em saúde materna e obstetrícia parou o serviço. Claro que a administração da maternidade diz (dizia) que "a normalidade na urgência deverá ser reposta em breve". Acontece que os enfermeiros que se cansaram da normalidade alertam para a situação de anormalidade (insuficiência no respectivo quadro) desde o princípio de Junho.

Não devemos ser condescendentes com a ideia, genuína e bondosa, do "juntos sermos imbatíveis". Chegamos ao ponto da clareza na confusão. O chefe do Governo volta ao ringue e patrocina o combate mais absurdo de que há memória. Afinal, o roubo de Tancos foi resultado de um campo de férias de adultos da quarta classe – numa disruptiva experiência para patentear.

Aquilo que era "grave" na avaliação do Presidente da República, do ministro, da chefia militar, não passou de uma limpeza de material obsoleto na ordem dos 30 mil euros. Assim, numa manobra que terá tido como único resultado o fecho do paiol de Tancos, também ele arcaico, alimentou-se um clima de insegurança e denegriu-se a instituição militar – num exercício pueril, os chefes suspensos são, dias depois, reconfirmados nas suas responsabilidades. A guerra do Solnado é um brilho de criatividade realista em comparação com a guerra do Azeredo.

Eis-nos, pois, no laboratório de uma experiência singular em modelo de governação – aquilo que se vulgarizou como geringonça. Houve um tempo em que se duvidou da sua exequibilidade, um tempo em que as vacas voavam, períodos em que a empáfia tufou. Estamos num daqueles momentos em que, contra o inesperado, queremos um país com uma resposta invencível. Assim seja. Para que o país que vai tocando o céu, embalado pelos elogios, saiba descer à terra e não continue a falhar para com o seu principal activo: as suas pessoas. 
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