Opinião
E responsável político, não há?
A saída de António Domingues da presidência da Caixa é o reconhecimento, pelo próprio, de que, com declaração ou sem declaração, não havia condições.
Domingues viu aquilo que emergia e incitava o quotidiano: a gestão já não tinha condições para liderar o banco público numa saudável relação com a tutela. Falta a outra parte – o poder político – reconhecer que alguém está obrigado a assumir responsabilidades pela forma absolutamente inacreditável como todo este processo decorreu.
Vamos por partes. A origem do mal está num acordo político que as Finanças fizeram com o gestor que foram desviar ao BPI. Domingues pôs condições inacreditáveis para quem quer ir para um banco público? Pôs. Mas o Governo aceitou. Não vale a pena António Costa vir dizer que num Conselho de Ministros (sem a presença do ministro das Finanças) ele próprio garantiu que os novos gestores do banco público teriam de entregar as declarações de património. Costa sabia do acordo e por muito que António Domingues não seja um político, era óbvio que não ia engolir de um dia para o outro o dito por não dito das Finanças.
Um acordo político que viola uma lei é um acordo que exige responsáveis. Mas António Costa é especialista em empurrar a assunção de responsabilidades, convicto de que com caixa-de-ar e algum tempo tudo passa. Foi assim com outro caso que envolveu as Finanças, quando o secretário de Estado Rocha Andrade foi ver a bola com a Galp, com quem tinha de gerir um pesado conflito fiscal. Rocha Andrade tremeu, mas não caiu. Ficou apenas limitado no seu perímetro de acção, inibido de decidir sobre assuntos Galp. Pobre miséria a que limita liberdade à responsabilidade pública. Rocha Andrade vale mais e merecia melhor.
O primeiro-ministro é um praticante da realpolitik – em cada momento escolhe-se, sem preconceito, a melhor forma de decidir e resolver um problema. Também por isso, adora segurar governantes em queda e gosta pouco de ver membros da sua equipa a assumirem o erro. João Soares é um exemplo ao contrário, vítima do reconhecimento público de um excesso. Foi para a rua, em liberdade. Costa aceitou, sem pestanejar.
É compreensível que, sendo as Finanças uma pasta central na governação e sendo Mário Centeno o ministro que tirou Portugal dos défices excessivos, Costa não queira crises numa área sensível. Mas o caso da Caixa faz alastrar a nódoa que o primeiro-ministro passa a ter no currículo – com ele, não há responsáveis políticos.
A saída de António Domingues é apenas uma das faces de uma má moeda. Falta a outra. Não há responsável político?
Vamos por partes. A origem do mal está num acordo político que as Finanças fizeram com o gestor que foram desviar ao BPI. Domingues pôs condições inacreditáveis para quem quer ir para um banco público? Pôs. Mas o Governo aceitou. Não vale a pena António Costa vir dizer que num Conselho de Ministros (sem a presença do ministro das Finanças) ele próprio garantiu que os novos gestores do banco público teriam de entregar as declarações de património. Costa sabia do acordo e por muito que António Domingues não seja um político, era óbvio que não ia engolir de um dia para o outro o dito por não dito das Finanças.
O primeiro-ministro é um praticante da realpolitik – em cada momento escolhe-se, sem preconceito, a melhor forma de decidir e resolver um problema. Também por isso, adora segurar governantes em queda e gosta pouco de ver membros da sua equipa a assumirem o erro. João Soares é um exemplo ao contrário, vítima do reconhecimento público de um excesso. Foi para a rua, em liberdade. Costa aceitou, sem pestanejar.
É compreensível que, sendo as Finanças uma pasta central na governação e sendo Mário Centeno o ministro que tirou Portugal dos défices excessivos, Costa não queira crises numa área sensível. Mas o caso da Caixa faz alastrar a nódoa que o primeiro-ministro passa a ter no currículo – com ele, não há responsáveis políticos.
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