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"A maior preocupação da libra é contra o dólar", defende Ebury
Na última semana, a libra esterlina tem vindo a desvalorizar e há uma turbulência nos títulos da dívida soberana no Reino Unido. Além disso, há a inflação, a falta de crescimento económico e um orçamento Trabalhista pesado que preocupa os mercados.
Em menos de dois anos, o Reino Unido enfrenta uma nova crise com o agravamento das "yields" da dívida pública e a desvalorização da libra esterlina. Além disso, o PIB do Reino Unido não registou qualquer crescimento no terceiro trimestre de 2024, depois de ter aumentado 0,5% no trimestre anterior e, em novembro, a inflação medida pelo índice de preços no consumidor (IPC) ficou pelos 2,6%.
Para Fábio Silva, analista da plataforma de câmbio Ebury Portugal, a libra esterlina tem sido bastante pressionada na última semana e "a maior preocupação neste momento é realmente contra o dólar. Está mais estável, em desvalorização, mas mais estável contra o euro".
"Acreditamos que, de facto, se deve a três fatores principais. Um deles, a força do dólar no início deste ano porque, de facto, os dados da economia americana têm trazido um otimismo maior e é normal que os investidores, com toda esta situação no Reino Unido, tendam a procurar mais esse refúgio nos Estados Unidos. Mas também sobre as preocupações futuras no Reino Unido, sobretudo, relativamente à inflação e também relativamente ao pouco crescimento económico", explica em entrevista ao programa do Negócios no canal NOW.
Outra questão, sublinha, é a turbulência nos títulos da dívida soberana no Reino Unido. "Os títulos a 10 anos atingiram, obviamente, níveis que só eram vistos em 2008, estando situados em 4,9%, e isso reflete que os investidores estão a criar um prémio de risco superior por esses mesmos títulos".
Para que a libra volte a ganhar força, Fábio Silva entende que o "desafio é relativamente grande para o Banco de Inglaterra porque espera-se que comece a cortar a taxa de juros gradualmente em 2025, o que não vai acontecer em perspetiva relativamente ao Estado americano, à Reserva Federal. E, obviamente, a inflação, que ainda está persistente e alta, é uma das mais altas das economias mais avançadas, o que dificulta muito a tarefa do Banco de Inglaterra".
Depois há a questão da política orçamental do Partido Trabalhista, que apresentou, no fim de outubro, o seu primeiro orçamento com fortes medidas de austeridade, nomeadamente um elevado aumento da carga fiscal.
"Esse fator também vai ter um peso enorme, também não está a ajudar, na verdade, a libra. Ou seja, começa-se a falar em algo parecido com 2022. Portanto, teremos que ver como é que vai ser implementado esse orçamento, mas o orçamento não agradou aos mercados de todo, muito por esse excesso de impostos", conclui.