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Sócrates é responsável

A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, vela pelo que lhe interessa, e se acaute

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Um esquema de corrupção, compra de votos de deputados, que deixa o próprio Presidente (mais um!) em xeque.

A crise brasileira tem contornos diferentes da nossa. Naturalmente. Mas o decoro exigido à classe política é universal. Como é universal a função do jornalista: servir o interesse público, fiscalizar o poder, denunciar abusos, incentivar boas práticas.

Estamos, portanto, todos no mesmo barco. Se um novo Governo toma posse, se o país vive dificuldades, se a economia está gravemente doente, há o dever patriótico de edificar a mudança. Na base desse contrato não escrito está a confiança.

É por isso que o raide, partidário, na CGD é imperdoável. Nem é tanto o ministro das Finanças, que nem teve tempo para saber se era má ou boa a relação com a administração. É a Sócrates que a factura deve ser cobrada.

Este primeiro-ministro tem condições únicas para governar porque foi ele, mais ninguém senão ele, quem conquistou essa confiança aos portugueses. É intolerável que, tão pouco tempo passado, já lhes esteja a roubar a esperança.

A maioria acreditou que era possível governar para as pessoas, mas consente (incentiva?) os militantes do seu partido a governarem-se.

A maioria acreditou que era possível governar desagradando a grupos poderosos, desafiando interesses organizados. Acreditava, enfim, que o seu projecto de «esquerda moderna» também passava pela moralização do sistema.

Afinal, o seu Governo limita-se a fazer o mesmo de outros: de outros governos, com outros nomes, mas promovendo os incompetentes de sempre. Gomes na Galp. Vara na Caixa.

Em tempos, nem se imaginava que chegaria a primeiro-ministro, destacava-se um jovem político num Ministério difícil, e elogiava a «sua cruzada, julgo que a primeira a este nível de funções, contra aquela aberração dos direitos adquiridos».

Estava Sócrates no Ambiente, há exactos cinco anos, enfrentando mamarrachos, agressões à Natureza, autorizadas por alguém, em algum momento, contra o bem-estar da colectividade.

A atitude de Sócrates, naquele Governo já em decomposição, era tão exemplar, tão generosa, tão estimulante, que arrisquei: «o pós-guterrismo ganha um candidato real à sucessão». Junho de 2000.

Assim foi. Sócrates chegou a líder do PS, a primeiro-ministro, sem preparação para o cargo. Não era grave. Somos seres imperfeitos. Só que uns são complacentes com a ignorância, outros querem sempre melhorar.

A perversão na CGD é sobretudo essa: a má pedagogia, o culto à ignorância. Convida a generalizações perigosas. Tudo é Vara, tudo é tacho. E, portanto, há que remunerar mal. Se é mau, que fique pior. Rui Barbosa tem razão: a nação precisa continuar a acompanhar o que lhe passa por perto.

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