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OPA no país da crise, crise no país das OPA

A bolsa chegou ontem ao ponto mais alto dos últimos cinco anos. Assistimos a uma corrida popular à Galp e não era porque a gasolina subia no dia seguinte. Onze, e já são onze!, as operações de aquisição que foram lançadas este ano a empresas cotadas no me

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Há crise para a família Azevedo, quando levanta mais de 15 mil milhões e se endivida até aos cabelos para avançar sobre a PT? E há crise para a família Fino, quando quer assumir o controlo da Soares da Costa? E de que crise se queixa António Mota quando lança três OPA sobre o grupo Tertir?

E de que crise afinal padece o sector da comunicação social em Portugal, quando a Prisa assume as rédeas da corrida ao grupo da TVI e lança uma oferta para o controlo total das acções?

Não há crise para bilionários que se endividam. Não há crise para o pequeno investidor que revisita o espírito do capitalismo popular dos anos 90 e se esgatanha por comprar a preço elevado uma participação na petrolífera.

Como não há crise para os empresários que procuram dimensão, nem para os que entram em novos negócios. Enfim, não há crise de liquidez, porque nunca esta existiu com tal abundância em todo o mundo.

Há dois fenómenos importantes a registar nesta súbita nova euforia lusitano-capitalista. O primeiro é que o país não está fora das rotas desses fluxos de capital. O segundo é que a Prisa abriu ontem uma excepção: os protagonistas das OPA são nacionais. Os financiadores podem ser estrangeiros, mas as operações têm sido predominantemente desencadeadas por portugueses.

É aqui, no país de capitalismo fervilhante, que o eng. Sócrates pode recuperar ânimo e relançar o mote da confiança. Ninguém investe, de facto, num sítio em que não se confia.

Mas precisa o primeiro-ministro recuperar ânimo de quê? Do outro país que o contesta numa intensidade que ele nunca havia experimentado. O mesmo país que se mobiliza em greves dentro de duas semanas. Que é o país que reúne a ira de centenas de autarcas ao protesto de cem mil pessoas que marcham contra as políticas do Governo.

País esquizofrénico? País de contraste? Não e sim.

Não há esquizofrenia num país que está a corrigir os seus problemas estruturais com uma década de atraso e o país que celebra uma conjuntural alegria bolsista.

E sim, é inegável o contraste entre a indignação daqueles que são o alvo dessas reformas e os outros que, não lhe sendo naturalmente alheios, não são apanhados pela mobilidade dentro do Estado, pelo novo Estatuto dos Professores, pelas novas leis das Finanças Locais e das Finanças Regionais.

Dom Jesús de Polanco, que não é autarca em Portugal, que não tem filhos funcionários públicos, que não vê a sua reforma diminuída pelo factor de sustentabilidade do ministro Vieira da Silva, está no entanto a dar um sinal de grande esperança a toda esta gente.

Investe em Portugal e num sector afectado pela incerteza. Não vem ao acaso, nem à experiência. Já está instalado na Media Capital há mais de um ano e não se arrepende. Ao contrário, quer mais e quer controlar o risco. Tomou a iniciativa e, possivelmente, antecipou-se à Bertelsman e outros concorrentes.

É verdade, também é socialista. Mas, disposto a gastar outros 400 milhões na empresa, estará Polanco a dizer aos restantes accionistas da Prisa que é preciso apoiar o camarada Sócrates nestes momentos difíceis, ou que Portugal está bom para os negócios?

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