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O regresso dos patriotas

A possibilidade de transferência de mais um grupo económico para controlo espanhol desencadeou as reacções do costume. A imprensa mais popularucha nem hesitou um segundo: Paes do Amaral foi acusado de traidor à pátria e pendurado nas setas para baixo. O a

Segue, portanto, a fórmula da programação da TVI.

Só que esta tem uma vantagem: não sofre dos tiques de superioridade moral de muitos «nacionalistas». Ainda por cima, incoerente. Que ora eleva Américo Amorim porque fez bem quando passou um banco aos espanhóis, ora crucifica porque há quem se prepare para fazer o mesmo a um grupo de comunicação social.

O acordo anunciado entre os principais accionistas portugueses da Media Capital e a Prisa desencadeia, como é óbvio, uma onda de vários sentimentos. Todos eles maus.

De perplexidade, porque não passou muito tempo sobre a admissão da Media Capital à bolsa e sobre os «esforços» de ministros e banqueiros para garantir a «nacionalidade» da operação.
De inquietação, porque não é fácil imaginar em que ponto irá parar esta «iberização» de sentido único.

De incerteza, porque também não é possível perceber as reais consequências dessa OPA permanente que está lançada sobre a nossa estrutura económica.

De impotência, porque nada pode e ninguém deve interferir nas decisões privadas, de uma empresa privada, num país que há muito tempo fez a sua opção pelo sistema capitalista.

Evidentemente que desperta o sentido de nação. E a angústia de quem verifica que os nossos homens de negócios perderam o conceito de geração. Está tudo na onda de não resistir à melhor oferta. Ou de, como ontem lhes chamava aqui Eduardo Moura, os «investidores de longo curso» estarem em vias de extinção.

Há uma reflexão séria a fazer sobre as decisões de Champalimaud, de Amorim, da família Vaz Guedes ou de Paes de Amaral. E, definitivamente, não pode ficar ao nível do insulto grosseiro.

Até porque a crítica primária, aquela concepção simplista que divide os empresários em dois grupos, os bons e os maus, não por eles serem efectivamente bons ou francamente maus, é perversa e contraproducente.

É perversa porque assume o princípio de ser preferível uma empresa nas mãos de um português medíocre, ou até corrupto, do que controlada por um espanhol competente e profissional.

E é contraproducente porque, o medo a Espanha, o ódio aos espanhóis, além de não resolver o problema, deixa-nos limitados na defesa. A pior posição possível, porque os espanhóis são arrogantes e só sabem atacar.

Dar pancada em Diogo Vaz Guedes, cacetada em Paes do Amaral e até profanar a sepultura de Champalimaud solta a adrenalina e ajuda a espantar fantasmas. Mas não resolve a questão de fundo. E esta questão não é tanto porque os espanhóis nos querem comprar empresas, mas sobretudo porque os portugueses não hesitam em vendê-las.

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