Opinião
O passado, o presente e o futuro
Estranho país o nosso, cuja economia cresceu modestamente em 2006, mas cujos cinco maiores bancos lucraram 2,7 mil milhões de euros e cujas sete maiores empresas, entre as quais dois dos anteriores, quatro mil milhões de euros. A edição de hoje do Jornal
A Maconde, que foi fundada em 1969 em Vila do Conde por um grupo holandês de nome Macintosh, que deu notícia no princípio dos anos 90 quando os quadros protagonizaram à época o maior MBO em Portugal (13,5 milhões a números de 1993) e que chegou a ser uma das grandes empresas têxteis portuguesas, sofre novo volte face. Em 2005, os sócios contrataram Mário Pais de Sousa (ex-Bosch e ex-Vista Alegre) para reestruturar o grupo. Menos de dois anos passados, a reestruturação industrial está feita (cinco fábricas reduziram-se a uma unidade em Vila do Conde e outra em Marrocos), os postos de trabalho ficaram em metade e as marcas comerciais Macmoda e Tribo foram alienadas. Quando se esperava o passo seguinte da estratégia, o gestor é substituído por Maria Cândida Morais (ex-Barbosa & Almeida e ex-Lusomundo). Parece que a Maconde anda à deriva, pelo menos desde que a saída de Joaquim Cardoso (entretanto falecido), e não se percebe se quer ser um grupo industrial, uma empresa comercial ou até de marcas topo de gama, como foram as experiências falhadas com as insígnias Oxford, Alto e Nuno Gama. Maria Càndida Morais, que é uma gestora experiente, não vai ter pela frente vida fácil.
A Autoeuropa marcou outra fase do investimento estrangeiro e, menos de dez anos sobre a sua instalação em Setúbal, o futuro esteve sombrio. Entretanto, recuperou posição competitiva em termos de custos entre as fábricas do grupo, para o que contribuíram dois acordos laborais considerados históricos, que criaram um banco do tempo e flexibilizaram as condições de remuneração do trabalho extraordinário. Com as novas condições, a Autoeuropa já está a produzir o Eos e arranca em breve um outro modelo, que, no entanto, não garantem a capacidade instalada para além de 2010. As boas notícias chegaram ontem, com a garantia de mais 500 milhões de euros de investimento, que permitirão à fábrica a produção de dois novos modelos, entre os quais o sucessor do Sharan, e a criação de 600 empregos.
O que é bom para Palmela é bom para Portugal.
Num Norte ainda demasiado dependente do sector têxtil e do calçado, a quem nunca coube um investimento estruturante com a dimensão da Autoeuropa nos anos 90, as boas notícias parecem escassas ou não aparecem nos jornais. Enquanto as empresas mais antigas enfrentam os desafios do mundo global e os empresários tradicionais tentam sobreviver, há uma nova realidade a fervilhar, sobretudo à volta das universidades, com investigadores que desafiam a lógica do emprego seguro para a vida e decidem arriscar. Um exemplo vem de investigadores do Departamento de Física da Universidade do Minho, com um projecto de "spin-off" para produzir novos materiais para componentes electrónicos, que ganhou um concurso de ideias para criação de novas empresas e vai ter direito a um ano de incubação. O ambiente científico da Universidade do Minho já deu provas de promover o empreendedorismo, em projectos bem sucedidos como a Primavera Software, a MobiComp ou alguns quadros que estiveram na origem da Enabler. Ainda mal se dá por eles mas há mais projectos a dar os primeiros passos, seja nas iniciativas da Cotec ou das próprias universidades.
É como se fosse o passado, o presente e o futuro de Portugal.