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28 de Fevereiro de 2008 às 13:59

O mestre zen

Há alturas em que os economistas e os empresários parecem viver em mundos diferentes. Os primeiros, sempre mais pessimistas, só vêem perspectivas sombrias e os segundos, habituados a sobreviver no meio das adversidades, tradicionalmente mais optimistas. Q

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O Jornal de Negócios foi testar a sintonia entre as análises macroeconómicas e o sentimento dos empresários e verificou que, por esta altura, os discursos estão alinhados. As empresas começam a sentir a diminuição da liquidez nos mercados bancários, tanto no aumento das taxas de juro como na mudança de atitude dos bancos, com uma clara retracção da oferta. Confirma-se, agora, que apesar das críticas passadas à banca, se viveu, até muito recentemente, uma situação excepcional de facilidade de acesso ao crédito, agora irremediavelmente comprometida.

Numa pequena ronda pela economia real - que deixou propositadamente de fora as empresas do sector financeiro, que estão na origem da crise - torna-se evidente que, por muito diferentes que sejam as situações concretas de cada empresa e de cada sector de actividade, existe um sentimento geral de apreensão. Que resulta da deterioração das condições financeiras mas, sobretudo, da situação dos mercados internacionais.

Na primeira linha das dificuldades estão aqueles que mais exportam para os Estados Unidos. A continuada depreciação do dólar face ao euro, que ontem atingiu um recorde absoluto desde que a moeda única europeia foi cotada em 1999, atinge todos os sectores. Alguns casos de sucesso recentes, como o dos têxteis lar, cujas vendas dispararam nos Estados Unidos, estão entre os que têm agora mais dificuldades. E sem perpsectivas animadoras no curto prazo: sucedem-se os sinais de enfraquecimento da economia norte-americana e de que a Reserva Federal continuará a descer as taxas de juro, apesar do aumento da inflação. O que faz reeditar os receios de “estagflação”, esse fantasma de inflação sem crescimento, que atormentou os anos 70.

Quem aparece em melhor forma na fotografia são as empresas dos sectores tecnológicos, que contam com a interdependência crescente com todos os negócios e com a tendência das empresas para recorrer ao “outsourcing”. O problema para a economia portuguesa é que, por mais bem sucedidos que sejam os exemplos de algumas empresas tecnológicas, como a Alert, especialista em “software hospitalar”, cujo volume de negócios está a duplicar todos os anos, elas ainda não têm suficiente expressão em termos quantitativos no tecido económico e muito menos no emprego.

Se existe a percepção de que os próximos tempos vão ser difíceis e já nem mesmo ao Governo é permitida a reedição da teoria do oásis de má memória (Braga de Macedo que nos perdoe), também fica evidente que no meio das crises despontam as oportunidades.

A situação pode ser resumida com recurso à parábola do mestre zen, do filme “Jogos de Poder”, em exibição nas salas portuguesas. Numa pequena aldeia, um miúdo tem como prenda um cavalo. Quando toda a gente diz “Que sorte”, o mestre zen diz “Veremos”. Quando o miúdo cai do cavalo e parte uma perna, toda a gente diz “Que azar” e o mestre zen “Veremos”. Quando todos os jovens são incorporados para a guerra e o miúdo escapa por ter a perna partida, toda a gente diz “Que sorte” e o mestre zen “Veremos”...

Perante a actual situação, mais vale adoptar a posição do mestre zen. Sem euforias nem depressões. Talvez apenas um pouco mais proactiva.

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