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O horror dos nossos dias

Quando acontece uma tragédia, aparece sempre todo o tipo de reacções. Dos chefes de Estado. Dos líderes religiosos. Dos peritos. Dos especialistas. Dos comentadores. Dos cidadãos comuns. A mais impressionante de todas, ontem, foi a reacção dos investidore

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Quando essa tragédia é obra da vontade humana, quando a desgraça é previamente planeada e depois construída pela barbárie dos homens, o sentimento dominante é, com certeza, a indignação. Incredulidade e choque, primeiro. Depois revolta e impotência.

Pois ontem, nos mercados, locais sempre sensíveis, de respostas nervosas, a atitude foi diferente. O principal índice da bolsa de Londres, o Footsie, caiu apenas 1,3%. Muitos dias já houve, sem atentados terroristas, em que a City sofreu perdas mais acentuadas.

Espera-se dos analistas de mercados aquilo que normalmente também é pedido aos jornalistas: uma explicação, uma interpretação dos factos. E eles tinham uma leitura, consensual, desta «reacção positiva» dos mercados.

As bolsas funcionam com esse pressuposto, esta possibilidade de um atentado terrorista. Por isso, dizem, os valores mobiliários, as cotações das empresas, já incorporam este risco.

Dito de outra forma, o terrorismo passou a fazer parte das suas vidas. Aqueles que lidam com factos, aqueles que têm a obrigação de racionalizar as suas decisões, acabam de nos fazer essa revelação cruel: o próximo atentado, em Paris, em Roma, em Lisboa, em Budapeste, resume-se a uma lei de probabilidades.

Nem sempre foi assim. Nem sempre os mercados encararam um atentado terrorista, com centenas ou milhares de vítimas, como se fosse uma «normalidade».

A 11 de Setembro de 2001, Wall Street não abriu, permaneceu aliás fechada por uma semana, e quando voltou à negociação, Dow Jones e Nasdaq afundaram 7%.

Mais quatro dias, mais quatro trambolhões sucessivos. As bolsas de Nova Iorque acumularam perdas, cada uma, de 17%.

A bolsa de Londres fechou ontem como num dia normal. Madrid, a 11 de Março do ano passado, reagiu mais nervosa com Atocha e, em três dias, o Ibex perdeu 7%.

Todos estes índices e todas estas perdas provocam múltiplas sensações. E contraditórias.

A sensação de que a «guerra contra o terrorismo» está perdida. A guerra será permanente. E o terrorismo impossível de eliminar.

A sensação, pelo contrário, de que os mercados financeiros estão «maduros» e são capazes de não ceder ao terror. No capitalismo puro e duro, os terroristas ontem não conseguiram destruir.

De certa forma, o mesmo começa a acontecer na «guerra mediática». A comunicação social também está a vencer esta guerra. As televisões estabeleceram um pacto, censurando a divulgação de imagens mais violentas. Imagens que, seguramente, chocavam, intimidavam, apliavam o medo. Enfim, cumpriam os objectivos dos canalhas.

É uma censura rara. Serve para defender a liberdade.

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