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27 de Maio de 2008 às 13:59

O golpe de asa de Paulo Azevedo

2008 vai ser mesmo o “annus horribilis” da Sonae ou o que se está a passar, com os diversos títulos do grupo entre os mais penalizados da Bolsa, é apenas normal? Quem acompanha de perto a Sonae, está habituado às grandes oscilações das cotações. Com uma p

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São várias as justificações para o mau desempenho bolsista. O fim da OPA sobre a PT e a ausência de uma operação de vulto nas telecomunicações, como seria a concretização do namoro com a Zon, retiraram-lhe ângulo especulativo. Com duas actividades centradas exclusivamente no negócio doméstico e em sectores de consumo, é particularmente afectada pela crise. Numa actividade mais internacionalizada, como os centros comerciais, é atingida pela percepção do impacto da crise imobiliária e financeira. Fora da Sonae SGPS, mas ainda dentro do universo do grupo, a Indústria, que é a sua empresa mais internacional, sofre em quase todas as frentes, com excepção do Brasil: com a desaceleração da construção e a retracção da procura, em alguns dos seus principais mercados, como Espanha e a América do Norte, e a subida das matérias-primas.

Apesar disso, os analistas continuam a apostar nos títulos do grupo e a manter preços-alvo que parecem cada vez mais desfasados da realidade. Uma das explicações é que a Sonae, ao contrário do que é prática de outras cotadas, não gere activamente a cotação, ou seja, não tem programas de compra de acções próprias e quejandos. O que tem a vantagem de ser mais transparente.

Os homens da Sonae estão por esta altura a gerir o negócio e a fazer operações selectivas de consolidação, como as que foram protagonizadas pela Sonaecom, ou a compra dos hipermercados Carrefour. E a olhar para tudo o que sejam outras oportunidades.

Gerir o que existe pode não ser suficiente. A Sonae atingiu um ponto de limitações ao crescimento: na distribuição, que é hoje o seu principal negócio, livrou-se dos problemas no Brasil, que os analistas aplaudiram, mas está agora confinada ao mercado doméstico e a dar os primeiros passos em Espanha. O regresso à via da internacionalização, com dimensão, pode ser travado pelo amadurecimento dos mercados que mais crescem. Na Sonaecom é a ausência de oportunidades relevantes em Portugal.

Num encontro promovido pela Euronext à porta fechada, Belmiro de Azevedo afirmou e demonstrou com números que quem tivesse mantido as acções da Sonae desde a entrada na Bolsa estaria a ganhar dinheiro, refutando que tenha criado valor apenas para si próprio.

O problema é que, como disse quem todos sabem, no longo prazo estamos todos mortos. E nem sempre os investidores podem esperar o mesmo tempo que o patrão da Sonae.

Em todo o caso, com mais ou menos investidores amargurados, a Sonae é um caso de sucesso. Belmiro de Azevedo sempre foi capaz de gerir com os altos e baixos da bolsa e aproveitar para crescer com eles. O “timing” das cisões da Indústria e da Capital são bons exemplos.

Ainda não é o momento para julgar Paulo Azevedo. Mas, um ano depois de ter tomado as rédeas operacionais da Sonae SGPS, o filho de Belmiro sabe que os investidores anseiam pelas notícias – ou factos relevantes, como diz a CMVM – que façam subir as cotações. E também sabe que, apesar de lhe ser reconhecida a paternidade da OPA sobre a PT, ainda tem de provar que é ele o homem certo para o lugar. Para que não se lhe aplique o “Quase” de Mário de Sá-Carneiro: Um pouco mais de azul - eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe de asa?

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