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Navegantes da globalização

A participação de Portugal na globalização é sempre tema para a choraminguice nacional e para a evocação dos Descobrimentos. Não há cidadão deste planeta, minimamente informado, que não reconheça a contribuição dos portugueses para tornar o mundo global.

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Não há cidadão deste planeta, minimamente informado, que não reconheça a contribuição dos portugueses para tornar o mundo global. Há mais de 500 anos.

Chega! Jack Welch veio dizer na cara da nossa elite empresarial que este país devia envergonhar-se pela imagem que hoje tem no exterior.

Mas continuará a ser assim enquanto nos resignarmos à ideia de que o resto do mundo precisa recuar mais de cinco séculos para lembrar que os portugueses fizeram algo de positivo para a Humanidade.

Isso não acaba com voluntarismo. Isso não se apaga com marketing. E isso não se cura no psiquiatra. Mas a essência da mudança está efectivamente associada a questões da mentalidade e do foro psicológico.

Trinta anos depois de estar à beira de desaparecer enquanto nação, três décadas depois de ter "resolvido o problema" em Aljubarrota, a elite nacional partiu para o mar, chegou a Ceuta e, é verdade, mudou o mundo.

Trinta anos depois de ter feito uma revolução que derrubou a mais longa ditadura da Europa e só sobram os Velhos do Restelo. Temos obviamente empreendedores, cientistas, gente das artes, enfim os nossos navegantes das globalização, mas o país não tem glorificado os seus vencedores. E como é triste um país que não tem heróis...

Hoje e amanhã, o ministro da Economia decidiu reunir no Pavilhão de Portugal alguns dos representantes da elite nacional que apanha mas não embrulha ralhetes de um gestor reformado da General Electric.

E dentro de dez dias, o Presidente da República promove um encontro de gestores de multinacionais, uma autêntica constelação de lideres de empresas que são ainda mais célebres do que quem as comanda.

Dos Estados Unidos, a Cisco, a Intel, a IBM, a Microsoft e o Google. Da Europa, a Sacyr, a Telefonica, o Crédit Agricole, a Axa, a Roche, o Citigroup Europe ou a Ericsson. Mas também a Oderbrecht e a Embraer, do Brasil. De Angola, a Sonangol. E ainda a Sabic da Arábia Saudita ou a ZTE Corporation da China.

Muitos deles vêm a Portugal pela primeira vez. São dos que, depois do Infante D. Henrique, só conhecem a voz de Amália e os golos de Eusébio.

Mero desfile de celebridades? Sim, é verdade que por cá nunca se juntaram, ao mesmo tempo, tantos presidentes de empresas tão importantes, de origens e sectores tão diferentes. E vai este Conselho para a Globalização de Cavaco Silva mudar alguma coisa na nossa vida? Claro que não.

Mas basta que ajude a mudar a forma como o mundo hoje nos vê. Fazer networking entre 20 empresários nacionais com outros tantos líderes mundiais é das raras coisas que os políticos ainda podem fazer para internacionalizar as nossas empresas.

Nada de visões estratégicas. Nem intervenções voluntaristas. Menos ainda desculpas esfarrapadas. Como a dimensão - há sete anos, a Google era uma microempresa e hoje vale quase 130 mil milhões! Nem a idade - é Américo Amorim quem diz que nunca como agora teve acesso a tanto dinheiro para investir.

Não nos pois restam alternativas: abrir as nossas empresas aos capitais dos ricos, abrir os nosso mercados ao capitalismo dos pobres.

1385 Aljubarrota e 1415 Ceuta. 1974 Democracia e 2004 nada. Ainda a tempo. Só estamos dois anos atrasados.

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