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12 de Maio de 2006 às 13:59

Espanha aqui tão perto

Falamos de Espanha quase sempre pelos mesmos motivos: pela pujança da sua economia, pela agressividade das suas empresas. Espanha está presente, como um fantasma, ...

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Espanha está presente, como um fantasma, na discussão a propósito dos centros de decisão nacionais ou da soberania, como as reacções ao deslize do ministro Mário Lino, em terras galegas, declarando-se «iberista» tornam evidente.

Tão enredada anda a discussão em torno da comparação entre eles e nós – eles grandes nós pequenos, eles pujantes nós a definhar, eles agressivos nós a recuar – que se perde o foco.

Nada como olhar para as previsões de Primavera da Comissão Europeia para recentrar a análise. A Comissão alerta, e com a vantagem de ser através de um insuspeito comissário espanhol, para as fragilidades do padrão de crescimento Espanha, que apesar de crescer acima da média da zona euro (previsão de 3.1% em 2006), continua a perder competitividade e a acumular um défice externo crescente.

Joaquim Almunia avisou mesmo para o risco de «nuvens densas» no horizonte da economia espanhola, apontando o dedo a um modelo de crescimento baseado essencialmente na procura interna e aos riscos de implosão da «bolha imobiliária», com a subida das taxas de juro. Tendo em conta que o crescimento do mercado imobiliário, com o apoio do turismo e do investimento estrangeiro em segundas residências, é um dos pilares do crescimento espanhol, percebe-se a dimensão dos riscos. Nada que espante muito pois a bolha imobiliária espanhola é um «case study» a nível mundial e já só se discute se vai aterrar lentamente ou rebentar com estrondo.

Felizmente, Espanha está preparada para fazer face aos piores cenários. Tem as contas públicas equilibradas e assim devem continuar pelo menos nas previsões até 2007. É outro exemplo no qual os portugueses devem colocar os olhos, pois a determinação que o Governo espanhol colocou no equilíbrio das contas públicas, trajectória concretizadas na segunda metade dos anos 90, compara com uma oportunidade desperdiçada em Portugal.

As «nuvens densas» que pairam sobre Espanha não nos são indiferentes. O desempenho espanhol pode insuflar a inveja lusa mas a verdade é que a economia portuguesa estaria bem pior se aqui ao lado, o nosso vizinho, também estivesse mal. A Espanha é o maior cliente de Portugal e qualquer espirro em Madrid pode causar uma pneumonia em Lisboa. De consequências tanto mais graves quanto o estado geral do paciente português não apregoa saúde.

PS. As más notícias vindas de Espanha provocam sempre danos em Portugal e o caso dos selos não é excepção. A investigação desencadeada pela polícia espanhola faz crescer a perplexidade, e não apenas entre os investidores potencialmente lesados, pela forma como as entidades reguladoras assistiram sem qualquer capacidade de intervenção ao desenrolar de uma actividade para-financeira em larga escala. As perplexidades alastram à credibilidade que estas empresas conseguiram também através da imprensa, nomeadamente a económica tanto portuguesa como espanhola, para desenvolver as suas actividades, sem ninguém se interrogar sobre a sustentabilidade e a legalidade do esquema de investimento proposto. Nós próprios nos interrogamos.

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