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10 de Setembro de 2004 às 13:59

Energia negativa

Há alturas assim, em que tudo parece correr mal. Num dia a Galp perde a importante rede da Shell em Espanha. No outro vê confirmada oficialmente a dureza das conclusões do inquérito ao acidente de Matosinhos. Nada liga os dois assuntos a não ser que o que

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A derrota da Galp em Espanha é a perda de uma oportunidade de forte crescimento no mercado vizinho. Uma porta que, muito provavelmente, não volta a abrir-se durante muitos anos.

Os 338 postos da Shell dariam à empresa portuguesa, de uma assentada, a duplicação da quota de mercado em Espanha de cerca de 4% para 8%.

A estratégia ibérica da empresa fica comprometida? Não necessariamente. Como a Petrocer lembrava ontem, a Galp pode trocar o crescimento por aquisição pelo crescimento orgânico e abrir 20 postos por ano no país vizinho. E atingirá o mesmo objectivo daqui a ... 17 anos. São opções.

Acresce que a possibilidade de os postos da Shell virem a cair nas mãos da Cepsa fecha mais o cerco castelhano à empresa portuguesa. Ainda há poucas semanas, a Repsol, outro gigante espanhol, comprou os postos da Shell em Portugal.

Provavelmente, pagar o que a Disa ofereceu tornavam o negócio irracional.

Provavelmente, manter a marca Shell em postos comprados pela Galp seria uma estupidez.

Mas não estaríamos hoje a discutir desta maneira o desfecho deste negócio se não se desse o caso do consórcio que recentemente ganhou o concurso para a parceria estratégica da Galp ter levantado fortes reservas a esta operação. Não por uma opção estratégica, mas por razões de conveniência financeira.

E é um péssimo princípio que uma empresa que ainda é dominada pelo Estado aceite subordinar estratégias ditas vitais a interesses do momento de terceiros.

Esta é a dúvida que fica e dificilmente será esclarecida: a Galp foi até onde devia e podia ou desistiu do negócio a meio da corrida?

Menos duvidosas são as conclusões do inquérito ao acidente da refinaria de Matosinhos, ontem oficialmente confirmadas. O elenco das falhas que ocorreram naquela operação (a lista está na pág. 4 do Jornal de hoje) é uma autêntica galeria de horrores quando estamos a falar de uma refinaria de petróleo.

Perante isso, a pergunta que deve ser feita não é «o que é que correu mal» mas antes «como poderia alguma coisa correr bem» naquela refinaria da Galp com procedimentos daqueles.

Esta é, infelizmente, uma forma de trabalhar ainda demasiado frequente neste país. Desprezo quase absoluto por regras elementares de segurança, vidas humanas expostas desnecessariamente ao perigo, constantes maus tratos ao ambiente.

Louva-se a atitude dura de Luís Nobre Guedes. Que não lhe doam as mãos na responsabilização de quem tiver que ser chamado «à pedra». Que não se fique pela crucificação do funcionário que não fechou uma torneira ou pelas ridículas multas.

E que se diga às empresas que acabou a brincadeira. O desenvolvimento do país também passa por estes acréscimos de exigência e por uma verdadeira e eficaz fiscalização do Estado.

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