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26 de Agosto de 2005 às 13:59

Chorar pelos têxteis

Em apenas dois meses, um bom acordo pode tornar-se um acordo com «buracos». Foi o que descobriu o comissário Peter Mandelson a propósito do acordo de Xangai, que reintroduziu as quotas à entrada no mercado europeu para um conjunto de artigos têxteis chine

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Em apenas dois meses - para as camisolas bastaram 15 dias - algumas categorias atingiram a quota fixada e entretanto as peças de roupa começaram a acumular-se nos portos e armazéns europeus sem que os importadores as pudessem levantar.

É o lado caricato desta espécie de bloqueio, que já fez emergir o poder reivindicativo do «lobby» europeu da distribuição, a que se associaram alguns países do Norte da Europa contestando a atitude proteccionista da indústria têxtil europeia, concentrada na Europa do Sul. Desta vez é o comércio a falar nos riscos para o emprego e no aumento da inflação e os analistas financeiros a fazerem as contas ao impacto negativo no desempenho de empresas como a Henne & Moritz ou a Marks & Spencer.

A coisa é de tal forma que até a Zara, que também é cotada, teve necessidade de vir a público comunicar que não seria afectada pelo bloqueio, porque apenas 10% dos seus produtos são comprados na China.

Enquanto a Comissão Europeia tenta, em Pequim, encontrar uma «solução pragmática» para resolver o dilema, torna-se óbvio que nenhuma solução conseguirá satisfazer toda a gente. Até  porque a indústria já percebeu que o acordo não corresponde às suas expectativas porque, a haver transferência de encomendas, elas irão para outros países de mão de obra barata.

A verdade é que por mais quotas que sejam levantadas aos produtos chineses - e convém recordar que este acordo é transitório até 2007 - a diminuição da importância da indústria têxtil na Europa (sobretudo do subsector do vestuário, que é mais mão de obra intensivo) é uma tendência irreversível, tanto em termos de produção como de emprego.

Não que o têxtil não tenha lugar na Europa. Mas terá tanta mais importância quanto se concentrar nos aspectos mais lucrativos (leia-se com mais valor acrescentado) da cadeia,  da concepção e design à logística e distribuição.

O caso é particularmente sério em Portugal. Porque apesar dos programas específicos de apoio ao sector (nomeadamente para preparar a liberalização do comércio mundial têxtil, decidida em 1994) a nossa indústria continuou perigosamente agarrada a um modelo cuja vantagem competitiva assentava basicamente no mais baixo custo da mão de obra. As empresas que ganhavam dinheiro a vender minutos já há muito que deixaram de ter condições de concorrer à escala global. São as que estão a fechar.

Ninguém choraria muito por elas se o sector do têxtil e vestuário não representasse quase 200 mil postos de trabalho e uma grande concentração geográfica. Mas esse problema, que é sério, não pode levar à conclusão de que se deve eternizar o que não tem futuro.  Foi a pensar assim que nunca se fez o que havia a fazer.

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