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Caixa, tropa e polícia

O que há de comum entre as demissões na CGD, a revolta de militares e polícias e o papel do Estado na economia? Bem, é uma discussão interessante, esta, sobre a esfera de intervenção do Estado na actividade económica. E há duas maneiras, igualmente idiota

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Uma é, por assim dizer, a conservadora – o tema é ideológico e, pronto!, assunto arrumado. A outra é a liberal-chique – o Estado deve limitar-se à regulação, ignorando que nem os países mais liberais seguem o mandamento.

A regulação é, sem dúvida, a função económica mais importante de um Estado. Mas não é trabalho para políticos. O papel dos governos, uma vez garantida a independência das entidades reguladoras, continua a ser decisivo para a economia.

Criar um ambiente empresarial competitivo é tarefa de Governo. Com fiscalidade adequada. Com transparência. Com regras que todos cumprem. Com justiça a agir sobre os infractores. Tudo se resume, portanto, a uma coisa: confiança.

Um governante tem como dever, é a sua obrigação principal, promover todas as acções que de si dependem para reforçar a confiança no país. É isso que, no fim da linha, marca a fronteira entre um Estado de direito e um «sítio». Implica, obviamente, autoridade.

Confiança e autoridade. É o ponto de confluência da Caixa, da tropa, da polícia e do Governo.

Os resultados apresentados ontem pelo banco público confirmam o que se adivinhava: não foi por má gestão que a administração foi decapitada.

Foi por uma questão de confiança: o Governo não confiava nos gestores. Como estavam a ser competentes, agora comprovadamente, o problema persiste: agora quem confia no Governo?

Como se explica isto a um investidor estrangeiro? Como é que o poder político conquista a confiança dos investidores nacionais, que seguem sendo os mais importantes, a razoabilidade das decisões que toma na esfera empresarial, demitindo uma equipa que estava a recuperar mercado e multiplicava lucros?

Que utilidade tem os debates filosóficos sobre a intervenção do Estado na economia, a maior ou menor a liberalização, a privatização de serviços, abrir ao exterior ou retaliar os chineses, quando o partido manda no Governo e o Governo se apropria de um Estado?

E que Estado transmite segurança, ao cidadão na rua, ao investidor na empresa, quando se permite viver num clima de pré-desobediência civil?

Ontem, também ontem, os senhores sargentos que se reúnem numa associação qualquer, insinuaram que, em última instância, para «defender a instituição militar» são eles que têm as armas?!!! E, em conferência de imprensa, na tv para todos verem, dizem não reconhecer qualquer autoridade disciplinar ao ministro?

Até pode ser. Estão, militares e polícias, a defender-se a si próprios. Não os cidadãos que lhes pagam os tais «direitos adquiridos».

Na Venezuela, Chávez aguenta-se untando as mãos destes serviçais com porte de arma. Em Portugal, o pessoal prefere apostar noutro país. Porque isto está ficar um sítio.

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