Opinião
A semana «horribilis»
O país governado pelo eng. Sócrates é uno e indivisível. Mas parece ter duas economias. Um país, dois sistemas. Há um sistema triunfante, a economia que tenta sair do buraco e quer contrariar a depressão.
É o país das OPA e da bolsa que cresce como poucas, das empresas que melhoram resultados e dos bancos com lucros recorde.
Não, não é a economia que a esquerda anti-capitalista tanto ataca. É, em parte, a economia protegida, que não sofre directamente dos efeitos da globalização, que não está presa às amarras do Estado.
É também uma economia mais prometida que consumada. A economia dos investimentos de milhões anunciados e não aparecidos. A economia até agora virtual, dos projectos que não passaram disso mesmo.
Um ano foi necessário para «criar» a economia que transpira confiança. A confiança que o primeiro-ministro descobre na ousadia de Belmiro, que o Governo promove num plano tecnológico e amplia com o PIIP, o PIN, o PRACE ou o Simplex.
Sucede que é a confiança que esta semana o Banco de Portugal abanou na terça-feira, o FMI desmanchou na quarta e a OCDE acaba de desmoronar na quinta-feira.
Um ano numa semana. A semana «horribilis» de Sócrates, em que o entusiasmo dos empresários terá agora de ser resgatado nos escombros das estatísticas que, numa sequência fatal, fizeram a unanimidade entre organismos nacionais e internacionais.
Talvez, para o Governo socialista, nunca tivesse escapado de forma tão clara a «outra economia»: dos défices persistentes, da retoma que não existe, do definhamento persistente, enfim da rota de divergência que teimosamente mantemos relativamente ao resto da Europa.
José Sócrates parece ter subitamente entrado no «país da tanga» de Durão Barroso. E é, para mal dos nossos pecados e três primeiro-ministros depois, o mesmo país, com os mesmos problemas e uma ligeira diferença: os problemas avolumaram-se. Por isso, a urgência é maior.
É essa a mensagem clara do diagnóstico, outro terrível diagnóstico, que a OCDE traça sobre Portugal: depressa e bem. Sem hesitações. O tal «choque de liberdade» que anteontem era aqui pedido.
A OCDE, como também temos sublinhado, pensa que o Governo de Sócrates está no caminho certo – mas ao ritmo de caracol. Avalia as medidas lançadas, em curso e em preparação, como correctas – mas com os efeitos adiados.
O ministro reconhece a insustentabilidade da Segurança Social e vai para a concertação com o espírito que o próprio descreve: «não será possível concluir todo o processo legislativo» em 2006, pois «será necessariamente um processo lento e longo, que tem de ser muito aprofundado».
Certo e errado. Certo, porque o sistema de pensões é demasiado sério para ser transformado num laboratório de medidas avulso. Errado, porque um grupo de trabalho já esteve em 2005 a trabalhar para o senhor ministro poupar tempo.
Vieira da Silva não é ministro de Villepin. Os franceses não têm a tradição das reformas. Mas, no limite das crises, são francesas as revoluções que ficaram na História. Será isso preciso para resolver a treta dos nossos «direitos adquiridos»?