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A pergunta sem resposta

50 perguntas com resposta – este é o título do mais didático dos documentos sobre o TGV ontem divulgado ao cidadão comum. Esclarece dúvidas pertinentes: a razão da prioridade às duas linhas; as estações previstas; a duração das viagens; o início da explor

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Está ali, tim-tim por tim-tim, tudo muito bem explicado, numa linguagem simples e acessível. Nenhum dos milhões de utentes previstos pode, a partir deste manual de instruções, queixar-se que falta informação sobre o formidável meio de transporte do futuro.

É assim para os utentes, pois os contribuintes não foram contemplados no rol de esclarecimentos. Essa é a pergunta sem resposta: a malta gostava de saber quais os meios que o Estado conta ter para suportar este pesado compromisso.

Faz-se, é certo, uma tímida aproximação, quando o «questionário oficial» elabora a tese de as dificuldades económicas presentes não serem motivo para recusar o investimento.

A questão está mal colocada. Evidentemente que nenhuma razão conjuntural é pretexto. Seja para apoiar, seja para atacar um projecto com horizonte de várias décadas.

A pergunta do Governo deveria ser colocada ao contrário: será que um investimento de quase 8 mil milhões não eterniza a crise orçamental do Estado? e, por conseguinte, não implicará um agravamento sucessivo da carga fiscal que, essa sim, compromete a competitividade da economia?

Como é óbvio, a sociedade exige conhecer a programação anual deste pesado investimento. Com o mesmo rigor e detalhe das «50 perguntas com resposta» divulgadas.

É dever destes governantes, porque são eles que estão a assumir a responsabilidade política desta decisão com impacto nos impostos a suportar pela próxima geração, quanto nos custa, ano a ano, o TGV.

Não é aceitável, e não dignifica pessoas de bem, se escamotearem esta exigência com exercícios metafísicos sobre cenários de desorçamentação da despesa. Dentro ou fora de um OE, a factura existe e só há duas formas de a pagar: ou impostos cobrados hoje ou impostos pagos amanhã.

Faço a cobrança desta injustificável e deliberada omissão do Governo com a mesma convicção de quem, já aqui, defendeu que o financiamento não deve ser o único critério na avaliação de um projecto de transporte estruturante.

Mas é, com certeza, um critério. E relevante, porque, antes de todos os impactos positivos que se podem projectar, é preciso garantir que ele seja financeiramente sustentável.

O Governo já estava em falta na apresentação dessas garantias para um plano rodoviário que, toda a gente já percebeu, não se paga sem portagens. Agora fica duplamente devedor da demonstração de que este país pode pagar Ota, TGV e Scut sem novos aumentos de impostos.

Se a opção for essa, anuncia-se catástrofe. O efeito-PIB evapora-se e o emprego será temporário. A alta velocidade será útil para quem fugir daqui. E o eng. Sócrates não recebeu esse mandato, no dia em que conquistou a maioria absoluta.

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