Opinião
A nossa Zara
Com a Maconde também se conta a história do têxtil e vestuário em Portugal. A empresa nasceu do investimento do grupo holandês Macintosh em Vila do Conde em 1969, como um típico fabricante a feitio: produzia calças de homem para o mercado inglês.
Concebida para exportar, a empresa descobriu que o mercado interno podia ser interessante nos alvores da revolução de 1974. As lojas Maconde nasceram por essa altura e tornaram-se sinónimo de roupa a preços acessíveis, mas «cafona». Mantendo sempre a actividade industrial, nunca mais descurou o retalho no mercado nacional e foi tentando libertar-se da imagem de roupa barata e sem estilo.
Quando os holandeses decidem vender, os principais quadros do grupo protagonizam o maior MBO realizado até então em Portugal. Estávamos em 1993 e com o apoio de um consórcio de capitais de risco pagaram 13,5 milhões de euros.
Com gestão e capital português, foi a partir daí que a Maconde mais investiu em desenvolvimento do produto e «design». Mas os atributos que conquistou como fabricante de roupa de homem para marcas topo de gama, que ficavam com as melhores margens para si, nunca chegaram ao consumidor nacional. As lojas Macmoda, que sucederam às primitivas Maconde e ao «upgrading» Superconfex quiseram posicionar-se como uma espécie de Zara portuguesa, com vestuário que combinasse moda com preços acessíveis. Sob a batuta de Joaquim Cardoso, que liderou o MBO e é reconhecidamente um dos grandes especialistas portugueses do sector têxtil, a Maconde embarcou num ambicioso plano de expansão da rede de lojas, que a levou até Espanha, privilegiando as aberturas em centros comerciais. Mas a internacionalização não foi bem sucedida e em 2002 decidiu encerrar os estabelecimentos espanhóis, o mesmo ano em que se sucede outro acontecimento traumático. Joaquim Cardoso incompatibiliza-se com os restantes sócios e, quando tudo apontava para que fosse ele a comprar a posição dos outros, acaba por vender-lhes os seus 60%.
Com a chegada ao mercado de novos produtores num subsector onde o peso da mão-de-obra ainda é determinante, nos últimos anos a Maconde tem assistido a um significativo decréscimo das vendas. No retalho tem passado por sucessivas alterações estratégicas sem que se lhe reconheça um fio condutor: quer reposicionar a Macmoda mas o ambiente das lojas tem pouco a ver com os produtos que lá vende, dispersa-se na afirmação de marcas (só na roupa de homem já investiu na Oxford, na Alto e chegou a trabalhar no lançamento de uma marca Nuno Gama, cujo estilo de nicho dificilmente é compaginável com os volumes que a rentabilidade da empresa exige).
Há menos de um ano a Maconde contratou Mário Pais de Sousa para reestruturar o grupo. O homem que esteve à frente da Vulcano e foi gestor da Bosch e regressou a Portugal para recuperar a Vista Alegre – tarefa que deixou a meio, sem os resultados pretendidos – assumiu nova missão. Entretanto a Maconde, que já foi o primeiro grupo de vestuário português, deixou-se ultrapassar. Mais perto de ser uma Zara portuguesa – o que quer que isso seja – estão, por exemplo, a Salsa ou a Petit Patapon, do que a Macmoda. A quem apetece dizer, roubando o título de um livro do poeta e jornalista Manuel António Pina: «Não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde».