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07 de Junho de 2015 às 18:00

Um discurso de esperança para a Grécia

A Grécia está preparada e desejosa de fazer parte de um bloco compacto na Europa que elimine as deformidades que a levaram a ser a primeira peça do dominó a cair, em 2010. Mas para a Grécia implementar estas reformas com êxito, os seus cidadãos precisam de um ingrediente que está em falta: Esperança.

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No dia 6 de Setembro de 1946, o então secretário de Estado norte-americano, James F. Byrnes, deslocou-se a Estugarda, onde proferiu o célebre "Discurso de Esperança." O discurso de Byrnes marcou a mudança na forma como a América do pós-guerra olhou para a Alemanha, tendo dado a uma nação tombada a oportunidade de acreditar na recuperação, crescimento e regresso à normalidade. Sete décadas depois, é o meu país, a Grécia, que precisa dessa oportunidade

 

Até ao ‘discurso de esperança’ de Byrnes, os Aliados estavam empenhados em converter "(…) a Alemanha num país essencialmente agrícola e pastoral em carácter". Foi essa a intenção expressa do Plano Morgenthau, delineado pelo secretário norte-americano do Tesouro, Henry Morgenthau Jr., e co-assinado pelos EUA e pela Grã-Bretanha dois anos antes, em Setembro de 1944.

 

Com efeito, quando os EUA, a União Soviética e o Reino Unido assinaram o Acordo de Potsdam, em Agosto de 1945, concordaram na "redução ou destruição de toda a indústria pesada civil com potencial bélico" e na "reestruturação da economia alemã, com vista à agricultura e à indústria leve". Em 1946, os Aliados tinham já reduzido a produção alemã de aço para 75% do seu nível anterior à guerra. A produção automóvel afundou para cerca de 10% dos níveis pré-guerra. No final da década, tinham já sido destruídas 706 instalações industriais.

 

O discurso de Byrnes sinalizou ao povo alemão uma mudança nessa postura punitiva de desindustrialização. É claro que a Alemanha deve a sua recuperação e riqueza do pós-guerra ao seu próprio povo e ao trabalho árduo, bem como à sua inovação e devoção perante uma Europa unida e democrática. Mas os alemães não teriam conseguido o magnífico renascimento do pós-guerra sem o apoio expresso no ‘discurso de esperança’.

 

Antes do discurso de Byrnes, e durante algum tempo depois disso, os aliados da América não se mostraram muito empenhados em restaurar a esperança aos derrotados alemães. Mas quando a Administração do presidente norte-americano Harry Truman decidiu reabilitar a Alemanha, não houve volta atrás. O seu renascimento começou, facilitado pelo Plano Marshall, pela amortização da dívida em 1953 (patrocinada pelos EUA) e pela infusão de mão-de-obra dos imigrantes provenientes de Itália, da Jugoslávia e da Grécia.

 

A Europa não teria conseguido unir-se num espírito de paz e democracia sem essas vastas mudanças. Alguém teve de pôr de lado as objecções moralistas e olhar objectivamente para um país encerrado num conjunto de circunstâncias que só iriam reproduzir a discórdia e a fragmentação em todo o continente. Os Estados Unidos, que emergiram da guerra como o único país credor, fizeram precisamente isso.

 

Actualmente, é o meu país que está encerrado nas mesmas circunstâncias e a precisar de esperança. As objecções moralistas à atribuição de ajuda à Grécia são muitas, o que nega ao seu povo uma oportunidade de alcançar o seu próprio renascimento. Está a ser pedida uma maior austeridade a uma economia que está já de joelhos, devido à mais pesada dose de austeridade a que alguma vez um país teve de se submeter em tempos de paz. Não há ofertas de alívio do encargo da dívida. Não há planos para impulsionar o investimento. E, evidentemente, até agora, ainda não houve qualquer ‘discurso de esperança’ para este povo tombado.

 

Uma das marcas das sociedades antigas, como a Alemanha e a Grécia, reside no facto de os problemas contemporâneos fazerem reviver velhos medos e fomentarem novas discórdias. Por isso, temos de ser prudentes. Não podemos dizer aos adolescentes que, devido a um qualquer ‘pecado pródigo’, eles merecem ser educados em escolas sem recursos e suportar o fardo do desemprego em massa, quer o cenário seja a Alemanha de finais da década de 40 ou a Grécia de hoje.

 

Enquanto escrevo estas linhas, o governo grego está a apresentar à União Europeia um conjunto de propostas com reformas profundas, gestão de dívida e um programa de investimento para relançar a economia. A Grécia está, de facto, preparada e desejosa de fazer parte de um bloco compacto na Europa que elimine as deformidades que a levaram a ser a primeira peça do dominó a cair, em 2010.

 

Mas para a Grécia implementar estas reformas com êxito, os seus cidadãos precisam de um ingrediente que está em falta: Esperança. Um ‘discurso de esperança’ para a Grécia faria toda a diferença neste momento – não só para nós, mas também para os nossos credores, uma vez que o nosso renascimento acabaria com o risco de ‘default’.

 

O que deve uma tal declaração conter? Tal como o discurso de Byrnes foi curto em detalhes mas longo em simbolismo, um ‘discurso de esperança’ para a Grécia não tem de ser técnico. Deve simplesmente marcar um mar de mudança, um corte com os cinco últimos anos de novos empréstimos concedidos num quadro de endividamento insustentável, condicionado a doses suplementares de austeridade punitiva.

 

E quem deve fazer esse discurso? Em meu entender, o orador deveria ser a chanceler alemã, Angela Merkel - que deveria pronunciar o seu discurso perante uma audiência em Atenas ou em Tessalónica ou numa qualquer outra cidade grega à sua escolha. [Merkel] poderia aproveitar a oportunidade para deixar entrever uma nova abordagem à integração europeia, a começar no país que mais sofreu, que foi vítima tanto da falhada concepção monetária da Zona Euro como dos erros da sua própria sociedade.

 

A esperança foi uma força poderosa na Europa do pós-guerra e pode ser agora uma força de transformação positiva. Um discurso por parte da líder alemã numa cidade grega poderia ser um grande passo para a tornar realidade.

 

Yanis Varoufakis é ministro das Finanças da Grécia.

 

Direitos de autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org

Tradução: Carla Pedro

 

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