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16 de Abril de 2014 às 12:25

Tigre caído, dragão abalado

Menos de 18 meses depois de se tornar secretário-geral do Partido Comunista da China, Xi Jinping está prestes a prender o maior "tigre" político - um alto funcionário corrupto - da história da República Popular.

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Apesar dos rumores da iminente queda do ex-chefe de segurança interna Zhou Yongkang, que já duravam há vários meses, muitos especialistas continuavam na dúvida se Xi iria processar Zhou e, assim, quebrar a regra não escrita, estabelecida há muito tempo, que confere imunidade aos membros activos ou retirados do Comité Permanente do Politburo.

 

Mas as dúvidas sobre o destino de Zhou foram dissipadas, recentemente, por uma enxurrada de notícias sem censura dos meios de comunicação chineses que revelaram detalhes chocantes de corrupção envolvendo familiares e ex-subordinados de Zhou. Um jornal informou que as autoridades fizeram buscas, recentemente, nas casas de dois irmãos de Zhou. Embora essas histórias ainda não tenham implicado Zhou directamente, será apenas uma questão de tempo até que o governo chinês o acuse, oficialmente, de corrupção.  

 

Os rumores são ainda mais lúgubres. Diz-se que Zhou terá conspirado para matar a sua primeira esposa, e há rumores de que, no auge do escândalo do ano passado que envolveu o desonrado ex- chefe do partido Chongqing Bo Xilai, ele tentou assassinar Xi no complexoZhongnanhai, onde se situa a sede do governo.

 

Com base no que a imprensa chinesa divulgou até agora, é evidente que o caso Zhou será o escândalo mais feio e mais gritante envolvendo um líder do Partido que o país já viu. Isso fará com que Bo, um aliado de Zhou e um ex-membro do Politburo, que foi condenado a prisão perpétua por corrupção, seja visto como um pequeno ladrão.

 

Aparentemente, o governo chinês está a construir de forma meticulosa um caso contra Zhou, prosseguindo dois caminhos determinantes. O primeiro tem como alvo o seu filho, Zhou Bin, um homem de negócios que acumulou uma enorme fortuna através de negócios obscuros e de actividades potencialmente criminosas.

 

Com tantos funcionários do governo e empresários do sector privado ansiosos por agradar ao seu pai, Zhou Bin não teve dificuldades em tirar vantagens da situação. As suas actividades incluem intermediação na venda de equipamentos relacionados com o negócio do petróleo no Iraque (causando enormes prejuízos para as companhias petrolíferas estatais chinesas); construção de centrais hidrelétricas em Sichuan (onde o seu pai foi chefe provinvial do Partido entre 1997 e 2002); fornecimento de tecnologias de informação para 8.000 postos de gasolina estatais; e investimentos em imóveis, exploração de petróleo e estradas com portagens.

 

A revelação mais prejudicial até agora diz respeito à amizade de Zhou Bin com um chefe da máfia bilionário, Liu Han, que aguarda julgamento, acusado de crime organizado e homicídio. Liu fez a sua fortuna com a ajuda de Zhou Bin que, alegadamente, usou as suas ligações políticas para ajudar Liu a vender duas centrais hidrelétricas a uma empresa de energia estatal com um lucro de 330 milhões de euros, por exemplo.

 

O segundo caminho centra-se nos antigos tenentes de Zhou Yongkang. Uma tática muito usada pelos investigadores chineses anti-corrupção é deter funcionários subalternos que tenham trabalhado em estreita colaboração com o seu alvo principal. Normalmente, esses lacaios são ameaçados com longas penas de prisão, ou mesmo com a pena de morte, a menos que cooperem.

 

Neste caso, uma dúzia de funcionários que trabalhavam para Zhou no sector energético em Sichuan e no Ministério de Segurança Pública (onde Zhou foi ministro entre 2003 e 2008) foram presos. Mais preocupante ainda para Zhou é que entre esses funcionários estão dois antigos assistentes executivos que, presumivelmente, têm um profundo conhecimento das actividades de Zhou.

 

Quando o governo chinês anunciar formalmente a prisão de Zhou - provavelmente após a conclusão da sessão anual da Assembleia Popular Nacional - as revelações da podridão dentro do do Partido-Estado chinês irão chocar até mesmo os observadores mais cansados??. O que Zhou, a sua família e os seus amigos têm feito só pode ser descrito como saques insaciáveis e gangsterismo flagrante.

 

Mais importante ainda, o escândalo Zhou vai, certamente, implicar um número recorde de altos funcionários. Neste momento, um ministro, dois vice-governadores provinciais, um vice-ministro, e vários executivos de empresas petrolíferas estatais já foram detidos. Mais funcionários deverão cair durante o próximo ano.

 

Para Xi, apanhar Zhou na sua rede de combate à corrupção, provavelmente dará um impulso ao seu prestígio popular. Xi pode mostrar à céptica população chinesa que tem vontade de derrubar um dos políticos mais poderosos do país. Além disso, vencer um político outrora intocável não vai deixar dúvidas sobre a autoridade pessoal de Xi.

 

Para o resto do mundo, a revelação do escândalo Zhou confirma um facto profundamente preocupante: a China continua profundamente corrupta. Enjaular um tigre não destruirá um vampiro.

 

Minxin Pei é professor no Claremont McKenna College e investigador sénior não residente no German Marshall Fund dos Estados Unidos.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org

Tradução: Rita Faria

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