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18 de Novembro de 2004 às 13:59

Uma questão de liderança

A comunidade empresarial está pronta a assumir as suas responsabilidades no desenvolvimento sustentado do nosso país, consciente de que esse desenvolvimento harmonioso da sociedade também é essencial para o sucesso das suas empresas no presente e no futur

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Foi segunda-feira apresentada, em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, a versão portuguesa do GRI - Global Reporting Initiative, uma acção promovida pela Brisa, EDP e Millennium bcp, três empresas líderes de mercado em Portugal.

Este evento veio reforçar a ideia de que as empresas, os empresários e os gestores portugueses estão cada vez mais conscientes da necessidade de terem uma gestão rigorosa e transparente, baseada em estratégias de qualidade e inovação, sem dependerem da exploração de pessoas ou de recursos naturais que ponham em causa a dignidade dessas pessoas e a sobrevivência das gerações futuras.

Sublinhe-se ainda que esta acção foi promovida de forma totalmente voluntária pelos empresários e gestores envolvidos, sem qualquer intervenção do Estado, somando-se a outras iniciativas com o mesmo espírito na área da Ética e da Responsabilidade Social. Um sinal de que a comunidade empresarial está pronta a assumir as suas responsabilidades no desenvolvimento sustentado do nosso país, consciente de que esse desenvolvimento harmonioso da sociedade também é essencial para o sucesso das suas empresas no presente e no futuro.

Trata-se pois de uma excelente notícia para todos nós, porque, como refere um estudo da ACEGE, desenvolvido pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa sob coordenação do Prof. João Carlos Espada, um dos factores essenciais para o sucesso de uma economia pequena, como é o caso da nossa, num mercado global, é a existência de uma cultura de liberdade e de iniciativa empresarial capaz de criar empresários responsáveis e uma atmosfera cultural que os incentive a serem competentes.

É esta a boa notícia que nos chega do empenho revelado no desenvolvimento de acções como o GRI, o Código de Ética e outras. Porque nos anuncia o início de um percurso de transformação cultural de uma sociedade habituada ao laxismo, ao facilitismo e à desresponsabilização dos seus actos, rumo a uma sociedade onde se premeie o mérito e se responsabilize a negligência, onde se exalte o cumprimento da lei e se puna quem a contorne e desrespeite.

Mas, para que esta «guerra» seja ganha, torna-se imperioso que na «frente de batalha» estejam os mais influentes empresários e gestores nacionais, os mais capazes de, com o seu prestígio e influência, marcarem os ritmos e definirem os critérios, criando cada vez mais uma cultura de competência e responsabilidade, onde todos os agentes económicos tendam a cumprir esses critérios, sob pena de serem afastados do mercado.

São por isso necessários empresários e gestores que assumam esta luta, que aceitem que a sua empresa esteja na linha da frente, como fizeram agora os promotores da apresentação do GRI, assumindo critérios de gestão e de presença no mercado cada vez mais transparentes e mensuráveis, e exigindo aos outros com quem interagem o cumprimento dos mesmos critérios, sob pena de exclusão.

Pensamos que só desta forma a «luta» poderá ser eficaz. Porque promoverá uma verdadeira mudança cultural dentro do próprio mercado, sem interferência dos políticos e dos seus jogos nem sempre claros.

Uma luta que não será fácil, mas que poderá conduzir-nos a uma profunda mudança cultural tão necessária ao desenvolvimento da economia portuguesa. Isto se beneficiarmos da acção de líderes com convicções solidamente construídas, que não defendem comportamentos de responsabilidade social da empresa por moda, tendência, ou desejo de maior lucro, mas por convicções profundas que nascem de uma opção de vida.

Façamos pois votos para que este empenhamento dos empresários e gestores portugueses na construção de uma sociedade mais forte e mais sustentada possa vir a ser uma realidade cada vez mais vincada e que, como propõe o novo «Compêndio da Doutrina Social da Igreja», proposto pelo Papa João Paulo II, possamos ganhar este desafio cultural, ao estimular de um novo projecto social, económico e político, capaz de colocar no centro a pessoa humana, em todas as suas dimensões.

 

N.R.: A ACEGE é uma associação com personalidade jurídico-canónica e civil, que tem por fins:
a) Aprofundar, difundir e aplicar na prática a doutrina da Igreja Católica relativa à vida empresarial e às instituições empenhadas em promover a paz social e o desenvolvimento;
b) Aprofundar e difundir os conhecimento dos princípios da ética económica e empresarial;
c) Promover e apoiar iniciativas de solidariedade e de diálogo com os trabalhadores, empresas, associações ou movimentos empenhados em objectivos de bem comum, de paz social e de progresso.
Os órgãos sociais da ACEGE são presididos por : Direcção Nacional - João A. Pinto Basto; Mesa da Assembleia Geral - João Talone; Conselho Fiscal Nuno Fernandes Thomas.

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