Opinião
Há vida para além do trabalho
Aproxima-se a passos largos o fim da época de férias para a maioria dos portugueses e o consequente momento de retomar o trabalho e a consciência do muito que temos de fazer pelas nossas empresas, pela economia e por Portugal.
A seguir às distantes notícias de férias - onde pontuaram os sempre e infelizmente trágicos incêndios, a guerra no Líbano e a dificuldade do Benfica encontrar uma equipa ganhadora - voltamos agora a olhar responsavelmente para o desempenho das nossas tarefas e das nossas empresas.
Um desempenho que depende acima de tudo do nosso esforço e da nossa capacidade para definirmos os objectivos a alcançar com o nosso trabalho, com o nosso tempo e, consequentemente, com a nossa vida.
Definir objectivos é uma tarefa que não deve ficar limitada aos objectivos profissionais que a empresa propõe, ou impõe. É uma tarefa que tem de ser mais ampla e ambiciosa, que tem de ponderar as diferentes realidades que nos compõem enquanto pessoas, sob pena de atrofiarmos algumas das nossas capacidades naturais.
Para atingir a verdadeira realização pessoal não basta viver para a empresa, para os sucessos empresariais, para a carreira ou prémio anual. Cada pessoa é mais do que a sua carreira, é mais do que aquilo que consegue comprar, é muito mais do que o lugar e o status que conseguir alcançar.
Infelizmente, nem todas as empresas, nem a maioria dos gestores (mulheres e homens), percebeu esta realidade. Por isso, são demasiados os casos de gestores que vivem simultaneamente a euforia do êxito empresarial e uma profunda solidão pessoal, resultante de terem «secado» todas as suas relações e acções fora do ambiente profissional, experimentando a sensação de um enorme vazio que o sucesso ou o dinheiro não consegue minorar.
Ainda são demasiados os casos de gestores de sucesso que não conseguem conciliar a sua vida profissional e a sua vida privada, aceitando em troca da sua carreira, ou de um negócio pontual, «vender» a sua Honra, os seus Princípios mais fundamentais e, se for necessário, «vender» até a sua própria Família (Marido ou Mulher e os Filhos). Sempre segundo o único e absoluto critério de decisão: as suas responsabilidades e deveres profissionais, sempre essenciais e inadiáveis.
São decisões que, embora muitas vezes tomadas de modo pouco consciente, sob a pressão dos acontecimentos, acabam por, mais cedo ou mais tarde, ser «pagas» da forma mais dura, quando a vida profissional entra numa fase menos boa e se faz a descoberta trágica da ausência de um sentido no rumo da vida e de todo o esforço realizado.
É por isso essencial escolhermos objectivos, afinar estratégias e definir regras para que a empresa e as nossas responsabilidades profissionais não se transformem no dono das nossas vidas, um dono a quem tudo é devido.
O cumprimento das obrigações profissionais com excelência é um dever ético de cada um de nós. Mas há vida para lá das empresas. E para além de profissionais, cada um de nós é filho, possivelmente mãe ou pai, membro de uma comunidade e cidadão de um país. E em cada uma destas funções tem responsabilidades e obrigações que não pode renegar e que têm uma importância essencial para a sua vida e para a vida de Portugal.