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Um atraso de vida, este corona vírus!

Eis que sentimos: que a vida ou o tempo, parecem ter parado ou ficado suspensos. Tudo aquilo que antes era importantíssimo ou urgente, deixou, como que por artes mágicas, de o ser.

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Eis que sentimos: que a vida ou o tempo, parecem ter parado ou ficado suspensos. Tudo aquilo que antes era importantíssimo ou urgente, deixou, como que por artes mágicas, de o ser. Todas as nossas rotinas diárias mudaram radicalmente. Deixámos de ir levar os filhos à escola, de ir para o emprego, de almoçarmos ou jantarmos em restaurantes com os colegas ou amigos, de ir ao futebol ou de praticar desporto, de passear, de viajar, de nos abraçarmos ou, simplesmente, de nos cumprimentarmos.

De repente, também, tivemos de adiar sine die as reuniões, os eventos, os projetos, os investimentos, porventura até as férias e sentimos que nas nossas vidas, nos estamos a atrasar e a ficar em stand by, não se sabendo até quando.

Mas por outro lado, e surpreendentemente, os preços dos combustíveis baixaram, a poluição desceu para níveis antes impensáveis, todos nós passámos a ter mais tempo e tanto que nem sabemos o que fazer com ele, os pais estão com os filhos em família e o trabalho deixou de ser prioritário, assim como as viagens e o lazer.

Por sua vez, as atividades económicas como a distribuição e a logística estão reagindo a estes novos tempos e a reorganizar-se, porque esta crise não tem prazo para acabar e Portugal, tendo uma das maiores densidades comerciais por habitante da Europa, consegue manter  quase as suas redes de distribuição a funcionar, embora com horários reduzidos e condicionamento do número de clientes no interior das lojas.

E, permitam-me expressar aqui, um forte agradecimento a outros heróis nunca referidos, aqueles que diariamente e correndo sérios riscos de contágio, na operação logística e nas lojas, continuam de forma devotada e anónima, a servir-nos de todos os produtos que necessitamos para o nosso dia-a-dia: Os trabalhadores da distribuição.

A procura pela compra, através de plataformas online, explodiu e tal explosão desencadeou efeitos perversos, uma vez que o e-commerce serve para o processo da encomenda mas, para a entrega, é necessário toda uma estrutura, desde o armazém até ao pessoal que faz a entrega dos produtos aos consumidores, que estando dimensionada para um ainda nicho, não estava, porém, preparada para uma tal avalanche de procura.

Mesmo as empresas que têm processos muito bem definidos estão a ter problemas com as entregas, aparentemente, não por dificuldade de mobilidade, mas por terem dificuldade em o fazer face ao elevado número de encomendas. O Continente online, por exemplo, informou que as suas entregas estão atrasadas cerca de um mês e o Auchan tem filas de espera no próprio acesso ao seu site.

Os CTT, que asseguram muitas destas entregas porta a porta, afirmam estar a verificar comportamentos distintos nos diversos sectores, havendo um forte crescimento nos produtos essenciais (higiene, saúde e alimentação) e em consumíveis, material informático e livros, muito alavancado pela oferta de ecommerce já existente.

Por sua vez, e de acordo com os dados da SIBS, o número de compras e de levantamentos, caiu para cerca de metade, face à média diária antes do primeiro caso. Esta redução da frequência foi acompanhada de um aumento do valor médio das compras e levantamentos, de 21% e 25%, respetivamente. E, tal como nas semanas anteriores, continua a verificar-se uma concentração de compras em supermercados, hipermercados, lojas de proximidade, farmácias e parafarmácias. Por sua vez, em Espanha, a situação é semelhante, com as vendas de produtos frescos hortofrutícolas e cárneos a multiplicarem por três e quatro, respectivamente, enquanto as vendas de produtos gourmet e o vinho caíram mais de 10%. No sector não alimentar, principalmente na moda e vestuário, como se não bastasse o encerramento total das lojas, também na venda online se assiste a quebras de vendas na ordem dos 80%.

Pelo contrário, no alimentar, as pessoas estão a preferir comprar pela internet para evitar as idas aos supermercados, os quais, por serem locais de maior afluência aumentam as probabilidades de contágio. Também a venda online de refeições aumentou consideravelmente o número de pedidos, por força do isolamento social, do teletrabalho e do encerramento dos restaurantes, que só podem vender em sistema de take away.

No fundo e de um modo geral, empresas e pessoas estão a sentir que, embora não tendo entrado num buraco negro, onde tudo desaparece para sempre, ficaram parados no tempo com as suas atividades e rotinas em suspenso e com o futuro próximo comprometido. De facto, um verdadeiro atraso de vida, este Corona Vírus!

 

 

José António Rousseau

Docente e investigador da UNIDCOM/IADE/IPAM

www.rousseau.com.pt


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