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Os heróis da distribuição

O Coronavírus explodiu em todo o mundo e ameaça (quase) tudo implodir.

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O Coronavírus explodiu em todo o mundo e ameaça (quase) tudo implodir. Diante deste cenário, a Distribuição precisa lançar uma série de ações que façam frente à situação atual, desafiadora e sem precedentes, na história recente de Portugal e do mundo. Pois, todos estão a contar com a Distribuição que tem de continuar a trabalhar para que não faltem os bens essenciais. 

Embora a maior parte do sector esteja revendo as suas estratégias e gerindo as limitações da cadeia de abastecimento e as flutuações da procura, tal será insuficiente se o avanço do Covid-19 continuar a desenvolver-se à velocidade atual. 

Neste momento, muitas empresas, por opção ou imposição legal, já fecharam as suas lojas, como por exemplo, a IKEA, a H&M, a Toys R Us, a Parfois, a Starbucks, a Primark, a Pizza Hut ou a FNAC, restringindo a sua atividade apenas ao online e aceitando que a procura dessas áreas seja satisfeita por outros estabelecimentos ou pela concorrência indireta. A atual situação torna imperativo que os retalhistas criem equipas de gestão de crise, para considerar os cenários que podem ser desenvolvidos dentro e fora da empresa e, envolvendo os colaboradores, poderem tomar as decisões que se impõem, desenvolver as ações consideradas essenciais e adaptar os seus negócios para fazer frente à incerteza do próximo futuro. 

Neste sentido, e face a este novo normal, será essencial que os distribuidores levem muito a sério o seguinte:

A Gestão do Aprovisionamento, de forma a garantirem a clientes ou consumidores finais a disponibilidade, pelo maior tempo possível, de todos os produtos dos seus sortidos, com particular enfâse para aqueles de primeira necessidade ou de maior risco de escassez;

A Gestão da Confiança, uma vez que, à medida que as restrições apertarem, assim a procura diminuirá e os retalhistas terão de se concentrar no básico e essencial, gerindo os custos de curto prazo e otimizando os preços, de modo a darem aos consumidores razões para voltar aos seus estabelecimentos;

A Gestão dos Recursos Humanos, porque aos retalhistas se exigirá a tomada de decisões difíceis, sobre quais as atividades, lojas e canais se deverão manter e quais deverão ser suspensos ou fechados. Além disso, num ambiente de menor procura, poderão ser tentados a optar por aplicar maiores descontos, o que poderá afetar o futuro do negócio, se tal política promocional não for consistente, controlada e inteligente;

A Gestão do Futuro, uma vez que os retalhistas terão que considerar a forma como o Covid-19 terá impacto sobre os hábitos de consumo no período pós-crise, pelo que deverão olhar para fora da empresa, analisar e prever esse impacto e prepararem-se para as mudanças;

A Gestão Omnicanal, ou seja, os retalhistas deverão aplicar modelos métricos que permitam avaliar, em cada canal físico ou virtual, a evolução da procura, a capacidade de oferta de serviços completos ou parciais, de acordo com a disponibilidade dos seus colaboradores e a capacidade dos seus meios e efetivos logísticos, com a localização, a sua tipologia de clientes e a sua capacidade de abastecimento. Neste sentido, e apesar da dificuldade de tal decisão, pode até ser necessário trabalhar em conjunto com a concorrência para garantir a continuidade do abastecimento assegurando a existência de, pelo menos, um estabelecimento em cada área. Logo, os retalhistas devem levar em consideração uma série de recomendações que lhes permitam aproveitar as oportunidades, como por exemplo, fortalecer plataformas digitais para gerir os picos da procura; maximizar o uso de ativos (centros de distribuição, camiões de entrega, lojas físicas) para reduzir custos ou otimizar a oferta online, para oferecer produtos essenciais ao maior número possível de clientes;

A Gestão do Curto e longo prazo, porque as operadoras precisam de gerir as suas finanças, levando em consideração quer o curto quer o longo prazo. O essencial é possuir uma visão de 360 ??graus e assumir a cem por cento todas as iniciativas já em execução e as planeadas para o futuro, especialmente as de natureza estratégica, para que sejam tomadas as decisões corretas em relação a investimentos e atividades. Desta forma, as iniciativas de natureza continuada, devem incluir aquelas que agregam valor acrescentado, com economia dos custos variáveis, que possam ser constantemente medidos e monitorizados, para as poder ir alterando de acordo com as necessidades.

Os desafios das próximas semanas e meses estão transformando os retalhistas em verdadeiros pilares da sociedade, assumindo um importante papel protetor das comunidades em que operam e o desafio de, não só manter os clientes regulares e fiéis mas também, de aproveitar a oportunidade para atrair novos clientes.

Há uns dias, o líder da Mercadona Juan Roig, que considero um dos poucos visionários da Distribuição vivos, enviou uma mensagem às mais de 600 000 mil pessoas que integram a sua cadeia alimentar em Espanha e Portugal, na qual dizia: "Vi de perto, o esforço brutal que estão a fazer. São um exemplo no meio desta situação excepcional. Sinto-me muito, muito orgulhoso de todos vós." Tenho a certeza de todos os outros líderes das empresas de Distribuição, como por exemplo, o Pedro Santos da JM, a Cláudia Azevedo da Sonae, o Paulo Sousa Marques da Toys R Us , o João Paulo Peixoto da Staples e todos os outros, subscreveriam este elogio aos seus respectivos colaboradores.

Aos heróis da Distribuição que, diariamente, e correndo sérios riscos de contágio, na operação logística e nas lojas, continuam de forma devotada e anónima, a servir-nos todos os produtos que necessitamos para o nosso dia-a-dia e a podermos, tranquilamente, aguardar no conforto das nossas casas que esta crise passe e nos deixe. A todos eles, estamos muito, muito gratos!

 

José António Rousseau

Docente e investigador da UNIDCOM/IADE/IPAM

www.rousseau.com.pt


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